Bárbara. Uma força da natureza. Livro aberto, coração resiliente. Mãe fera, mãe colo. Que se abre, inteira e infinita, num abraço que carrega três amores. Alma livre, inspiradora, por remar contra a maré das tradições que continuam a legitimar violências várias – desde o pequeno animal humano ao animal não-humano maior. Obviamente que ela não podia ficar de fora desta rubrica — caso contrário ficaria uma sensação de algo incompleto — e, assim como eu, espero que adorem cada palavra que ela aqui partilhou ♥
Fala um bocadinho de ti.
Chamo-me Bárbara, sou mulher fascinada pela vida, mãe maravilhada de 3 filhos veganos (11, 5 e 3 anos) e namorada apaixonada pelo homem que caminha a meu lado. Sou, enfim, uma mulher rendida aos sentimentos incríveis que se experimentam no turbilhão duma família recheada.
Sou licenciada em Psicologia, mas actualmente prefiro mergulhar nos assuntos da saúde física, especialmente na sua associação com a alimentação e o estilo de vida. Sou autora dos livros Lexy, o menino vegano e Onde está a proteína? e descobri uma paixão pelo desporto aos 43 anos: a musculação. A vida é cheia de descobertas boas.
Quando te tornaste vegana? Quais foram os motivos principais?
Tornei-me vegana em 2009. Já tinha deixado de comer animais em 1999 depois de ter visto um documentário sobre a exploração de animais em diversas áreas. Aquilo abanou o meu mundo: chorei durante semanas sempre que me lembrava, como pude eu estar adormecida tanto tempo?
Mas, de 99 a 2009, embora tivesse longos períodos como vegana, acabava por ceder às tentações do queijo: na altura não existiam queijos veganos, senão teria sido muito mais rápido. Se compararmos as opções veganas de hoje com as que existiam naquela década, é absurdo. Quando me tornei ovolactovegetariana só existia soja desidratada e uns burgers que sabiam muito mal, hahaha. Eu sabia que animais não comeria mais mas o queijo foi realmente difícil; está provado que ele é, de facto, aditivo. Mas consegui, hoje sinto zero falta.
Como foi a tua alimentação durante as tuas gravidezes? Que cuidados tiveste?
Tive mais cuidados a nível de suplementação: reforcei iodo, B12, vitamina D3, K2, os ómegas. Tentava ser constante, pois, sabia que era importante ter bons valores, tanto para a gravidez como depois para amamentar (ainda amamento em tandem os dois mais novos). Também reforcei alimentos ricos em ferro, especialmente no segundo trimestre. Durante a gravidez e o aleitamento ingiro também mais calorias do que fora desse período, claro, tendo cuidado para ingerir alimentos variados, como vegetais, frutas, sementes, frutos secos, cereais, dando preferência aos que não têm glúten, super alimentos, etc.
Arte de Catie Atkinson
Como é a alimentação em casa? Quais são as refeições preferidas dos teus filhos?
É uma alimentação variada, tentando que seja a maioria do tempo bem saudável, mas também com alguns ‘pecados’ veganos de vez em quando. Não deixamos de comer as nossas pizzas, bolos, gelados! A preferida do Lexy é lasanha caseira, a do Leonardo são couves, grelos, brócolos, ele delira com isso a qualquer hora do dia. O mais novo gosta muito de batidos com frutas, mas também adora uma coisa um pouco menos saudável mas que tenho de esconder no frigorífico para ele não estar sempre a pedir: vuna (aquela imitação de atum).
Como mãe de três crianças, como lidas com o especismo do dia-a-dia? E como é que as tuas crianças reagem a ele?
Já são tantos anos disto, que honestamente quase já não é assunto. Mas já foi. Na primeira gravidez tive de ouvir coisas como “Estás a por a vida do teu bebé em risco com essa alimentação” e depois dele nascer, “Não vais ter leite nenhum”.
Mas sabes, quando aos 6 meses fui à pesagem e o médico disse “Ele está mesmo gordinho e saudável, andas-lhe a dar papas, não?” e eu respondi “Não, é mesmo só o meu leite”, ele mudou a sua perspectiva sobre esta alimentação, dizendo coisas como “Eu nunca vi um leite tão nutritivo como o teu, de facto a alimentação vegana tem tudo”. Não foram necessárias discussões: eles foram o exemplo vivo de que é possível ter uma gravidez saudável, filhos saudáveis e amamentação prolongada com uma alimentação plant based.
O teu filho mais velho foi a tua inspiração principal para o teu livro infantil “Lexy, o Menino Vegano”. Quando decidiste escrever o livro, qual foi o teu principal objectivo? Irás escrever mais livros infantis sobre veganismo futuramente?
A ideia para o livro começou em 2015; lancei o livro em 2016. O meu filho estava a crescer e não havia um só livro em português sobre veganismo na altura para lhe mostrar: encomendei um livro dos Estados Unidos mas ele era focado no mal estar dos animais. Eu queria falar do assunto duma forma leve, divertida, uma personagem com quem ele se identificasse, pois era o único vegano na sua escola. E na verdade foi um grande sucesso por isso, porque muitas famílias não veganas viram no livro Lexy, o menino vegano uma ferramenta boa para apresentar o assunto aos filhos. Também nas escolas foi e ainda é muitas vezes debatido com as crianças. Fiz algumas apresentações em escolas e todas foram de muito sucesso.
E sim, estou a escrever um novo livro infantil no momento que espero lançar ainda este ano!!
Partilhas conteúdo sobre maternidade. Achas que as mães estão apagadas dentro do movimento vegano? O que podemos e dever fazer para as mães terem mais voz e espaço no veganismo?
É assim, como eu sigo várias mães veganas, não vejo esse apagamento que referes, mas talvez sim, talvez fosse importante mais mães falarem da sua maternidade vegana para desfazer tantos medos e mitos que ainda existem. Devíamos ver mais entrevistas, mais debates, mais páginas voltadas para a maternidade vegana, para que se banalize o assunto, já que é uma forma de alimentação e de vida cada vez mais comum.
Arte de Katie M. Berggren
Também partilhas sobre criação com apego e a importância de respeitar as crianças, ambas um pouco distantes da educação infantil padrão. A teu ver, já há alguma mudança geral nesse aspecto ou ainda muita resistência? Como podemos mostrar às pessoas adultas que a criação com apego não é ‘estragar’ as crianças e sim um passo fundamental para quebrar um ciclo de violência infantil que se perpetua há gerações?
Sem dúvida que existem mudanças, mas ainda há muito terreno para andar. Infelizmente não à velocidade ideal, mas estamos melhor do que estávamos na minha infância ou na tua, com certeza. Ainda vemos que sempre que alguém lança uma conversa sobre colo, sono acompanhado, amamentação, há resistência, há sempre alguém que fala na independência dos pequenos e no excesso de mimo. Tão longe da verdade, pois o apego leva à segurança e futura independência. Ou, sempre que alguém fala contra as palmadas há muita discussão, acredito que por muita culpa materna/paterna, pois é mais fácil esconder numa desculpa do que admitir erros e agir. Todos cometemos erros. Eu cometi imensos, mas o importante é a consciência imediata desses erros, o desejo de mudar e a acção para mudar.
Não aceito o conformismo, não aceito que simplesmente desistamos de ser melhores para os nossos filhos. Haverá luta mais importante de que esta? Do que fazermos o melhor para criarmos crianças felizes, seguras, protegidas, acarinhadas, respeitadas, que se tornarão um dia líderes, médicos, activistas, professores? Não me parece que haja algo mais importante para o futuro do que isto. Oferecer amor para ver amor no mundo.
Por fim, queres deixar uma mensagem para mães que são criticadas e/ou desincentivadas por serem veganas e criarem as suas crianças de acordo com os seus valores?
O meu conselho é: estejam informadas e seguras das vossas opções. Quando estão seguras, essas críticas e tentativas de desmotivação não têm impacto em vocês. Eu, por mais que tenha ouvido todo o tipo de presságio sobre a gravidez, amamentação, crescimento dos meus filhos, mantive-me firme, pois sabia que estava a trilhar o nosso melhor caminho. Sabia que aquelas vozes que me tentavam melindrar nasciam da ignorância sobre este assunto. Porque deveria eu ficar medrosa ou recuar, quando sabia que quem me alertava não tinha qualquer conhecimento sobre este assunto em concreto? Estudem, leiam muito sobre alimentação (sempre, toda a vida, há sempre muito a aprender!), sigam mães veganas, fortaleçam os vossos passos, para que a vossa voz grite sempre mais alto do que todas as outras. ■
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Nota do blogue: em 2021 fiz um pequeno artigo sobre a ineficácia do colagénio enquanto produto ingerido ou aplicado. Não me debrucei tanto sobre a crueldade animal, visto acreditar não ser necessário fazê-lo quando já a expus por diversas vezes noutros textos.
Há uns dias, deparei-me com esta reportagem sobre a conexão sórdida entre o colagénio e a desflorestação da Amazónia, bem como a violência cometida contra as comunidades indígenas que tanto lutam para a proteger. No nosso dia-a-dia, mesmo não vendo, mesmo não sabendo, produtos aparentemente inofensivos escondem uma teia hedionda de atrocidades. Atrocidades contra animais, contra a natureza, contra os próprios humanos. Atrocidades que, camufladas por um véu entorpecedor, unem-se num abraço grotesco carregado de dor, sangue e lágrimas.
Por esse motivo decidi pegar nesta investigação e traduzi-la. Porque precisamos de ver.
Precisamos de saber.
Precisamos de mudar.
***
O mau cheiro chega antes dos camiões, que estão carregados com peles que foram arrancadas de carcaças de gado dias atrás. As moscas estão por toda a parte.
Os camiões vão para Amparo, uma pequena cidade industrial do estado de São Paulo, sudeste do Brasil. Aí, a Rousselot, uma empresa que pertence à texana Darling Ingredients, extrai o colagénio – um ingrediente presente em suplementos de saúde e que está no centro de uma mania global de bem-estar.
Mas, enquanto os consumidores mais entusiasmados do colagénio afirmam que essa proteína pode melhorar cabelo, pele, unhas e articulações, por retardar o processo de envelhecimento, a mesma tem um efeito questionável na saúde do planeta. O colagénio pode ser extraído da pele dos peixes, porcos e gado, mas por detrás da popular variedade “bovina”, em particular, existe uma indústria sombria que impulsiona a destruição de florestas tropicais e alimenta a violência e os abusos dos direitos humanos na Amazónia brasileira.
Uma investigação da Bureau of Investigative Journalism, The Guardian, ITV e O Joio e O Trigo, descobriu que [a criação de] dezenas de milhares de bovinos criados em fazendas, que estão a destruir as florestas tropicais, foram processados em matadouros ligados a cadeias internacionais de fornecimento de colagénio.
Parte desse colagénio leva-nos à Vital Proteins, propriedade da Nestlé e grande produtora de suplementos do supracitado. A Vital Proteins é vendida à escala mundial – incluindo online na Amazon, nas lojas Walmart nos EUA, na Holland & Barrett e na Boots no Reino Unido e na Costco em ambos os países.
A investigação – a primeira a correlacionar o colagénio de origem bovina com a perda de florestas tropicais e a violência contra os povos indígenas – encontrou, pelo menos, 2,600 quilómetros quadrados de desmatamento ligados às cadeias de suprimentos de duas operações de colagénio no Brasil, ambas relacionadas com a Darling: a Rousselot e a Gelnex, adquiridas pela Darling por 1,2 mil milhões de dólares americanos. Não está claro o quanto desse desmatamento, que foi calculado pelo Center for Climate Crime Analysis, está ligado à Vital Proteins.
Especialistas encaram a preservação da Amazónia como a chave para enfrentar as mudanças climáticas. Da mesma forma, defendem os direitos dos seus povos indígenas, amplamente reconhecidos como os melhores guardiões da floresta. Quase metade das áreas mais bem preservadas da floresta tropical está dentro dos territórios destes povos.
Como resposta aos seus consumidores, depois que o TBIJ abordou os revendedores para fazerem comentários sobre tal, a Vital Proteins declarou que “acabaria com o fornecimento da região amazónica imediatamente”.
A Darling Ingredients disse ao TBIJ que a empresa e a sua subsidiária, Rousselot, monitorizam os seus fornecedores e excluem aqueles que não atendem aos seus critérios de fornecimento responsável. Um porta-voz acrescentou que as empresas “desempenham um papel crucial” na “recolha e reaproveitamento de subprodutos animais que, de outra forma, seriam descartados”. Ele alegou que não poderia comentar sobre a Gelnex, já que a sua aquisição, em Outubro de 2022, ainda não foi formalizada.
A Holland & Barrett referiu que está comprometida com o fornecimento responsável, para garantir que as cadeias de suprimentos não contribuam para o desmatamento. A empresa acrescentou que sobrelevou estas alegações com a Vital Proteins e que levará em consideração uma acção correctiva caso novas violações de política sejam encontradas.
Um porta-voz da Boots disse: “Estamos em contacto com os nossos fornecedores para ter garantias sobre o fornecimento do colagénio”.
A Costco frisou que levou as alegações a sério e entrou com contacto com os seus fornecedores. A Walmart e a Amazon recusaram-se a comentar.
O mito do subproduto
O colagénio bovino é um dos chamados subprodutos da pecuária, o que no Brasil corresponde a 80% de toda a perda da floresta amazónica.
Todavia, subproduto é um termo enganoso, de acordo com a Environmental Investigation Agency, um grupo de defesa ambiental com sede em Londres. “Não chamaria nenhum deles de subprodutos. As margens para a indústria da carne são bastante estreitas, pelo que todas as partes vendáveis do animal são incorporadas ao modelo de negócios”, disse Rick Jacobsen, gerente da política de comoditizações da EIA.
Os produtos sem carne [com outras substâncias de origem animal] correspondem a pouco menos da metade do peso de uma vaca abatida e podem gerar até um quarto da renda dos frigoríficos, de acordo com as estimativas da Bain & Company, um grupo de pesquisa de mercado. De longe, os subprodutos mais valiosos são as peles do gado usadas para fazer couro e colagénio.
Estima-se que a indústria do colagénio, como um todo, tenha o valor de 4 mil milhões de dólares [americanos] por ano.
Ao contrário da carne bovina, soja, óleo de palma e outras comoditizações alimentares importantes, o colagénio não é coberto pela futura legislação de devida diligência na União Europeia e no Reino Unido, projectada para combater o desmatamento. As empresas de colagénio, portanto, não têm obrigação de rastrear os seus próprios impactos ambientais.
“É importante assegurar que esse tipo de regulamentação abranja todos os principais produtos que possam estar ligados ao desmatamento”, asseverou Jacobsen.
A maior parte da desflorestação causada pela pecuária pode ser atribuída a fornecedores indirectos das empresas, segundo Ricardo Negrini, promotor federal do estado do Pará, Brasil, que supervisiona os compromissos climáticos dos processadores de carne bovina. O gado é frequentemente transferido de fazenda para fazenda, passando por diversos estágios de criação, pelo que uma vaca nascida em terras desmatadas pode ser engordada para abate numa fazenda de terminação “limpa”. Contudo, Negrini disse que, actualmente, todos os frigoríficos têm capacidade de rastrear o gado que compram.
Legislação para combater o desmatamento ligado à pecuária não leva em consideração o colagénio
Com o aumento das vendas de carne bovina, couro e colagénio, mais e mais florestas foram derrubadas e substituídas por pastagens nos últimos anos, com terras muitas vezes confiscadas ilegalmente. A virtual impunidade para a grilagem de terras durante o governo Bolsonaro também alimentou ataques a comunidades tradicionais. Em 2021, no terceiro ano da sua presidência, ocorreram 305 invasões contra terras indígenas. Foi três vezes mais do que os números relatados, em 2018, pelo Conselho Indigenista Missionário da Igreja Católica.
“Não há expansão da pecuária na Amazónia sem violência”, disse Bruno Malheiro, geógrafo e professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.
“Não há expansão da pecuária na Amazónia sem violência”, disse Bruno Malheiro, geógrafo e professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.
A uma curta distância do escritório de Malheiro em Marabá, município com o terceiro maior rebanho bovino do Brasil, a paisagem é aplainada por pastagens. Camiões transportam gado constantemente para os inúmeros matadouros da região.
No município vizinho de Bom Jesus do Tocantins, uma placa verde pontilhada de balas fica ao lado da estrada que leva ao território indígena Mãe Maria. Vista de cima, esta terra, lar do povo Gavião, é uma parcela verde-escura de floresta tropical debruçada numa colcha de retalhos de fazendas.
Para Kátia Silene Akrãtikatêjê, a primeira mulher líder do povo Gavião, é como viver numa ilha. O seu povo sente-se “cercado, sufocado”, disse ela ao TBIJ. A reserva Mãe Maria é o único território em centenas de quilómetros que ainda se assemelha à imponente floresta amazónica.
Malheiro chama-lhe de “um processo de confinamento territorial”. Para os Gavião, a manutenção da mata onde caçam, pescam, cultivam e recolhem sementes vem com ameaças, tentativas de invasão e incêndio criminoso.
Em Setembro do ano passado, uma vila inteira foi incendiada: uma escola, dezenas de casas e um pedaço de floresta foram reduzidos a cinzas. O incêndio não foi acidental, abonam eles, e a comunidade continua a viver com medo.
“[Os fazendeiros] destroem o que é deles e invadem o que é nosso. Não entendo porque destroem tudo”, indagou a líder indígena.
De acordo com José Batista Afonso, advogado e defensor dos direitos fundiários, trabalhador na Comissão Pastoral da Terra em Marabá, a região oferece um vislumbre de como seria toda a Amazónia caso a pecuária continuasse a se expandir sem controlo.
Cadeias obscuras de suprimentos
Cadeias obscuras de suprimentos
As cadeias de abastecimento de colagénio bovino são altamente intrincadas, com inúmeros intermediários envolvidos na aquisição e no processamento.
O colagénio Peptan da Rousselot é a marca líder mundial e exporta o referido para os EUA e Europa, onde possui várias fábricas.
A Rousselot obtém peles de vaca da BluBrasil, um curtume localizado dentro de um complexo em Bataguassu, Mato Grosso do Sul. Tal complexo é da propriedade da Marfrig, uma das três grandes empresas de carne bovina do Brasil. Fornecedores de gado da Marfrig têm sido ligados à destruição de florestas tropicais e a invasões territoriais do povo indígena Guarani Kaoiwá.
Em 2021, a usina comprou animais da fazenda Campanário, uma grande propriedade que viola o território Guarani Kaoiwá em Laguna Carapã, também no Mato Grosso do Sul. A área é conhecida pelo seu elevado índice de violência contra indígenas. A Marfrig contou ao Bureau que apenas uma pequena parte da propriedade está em cima da terra ancestral, que a empresa afirma não ser totalmente reconhecida como território indígena. O proprietário da fazenda Campanário não respondeu ao pedido do Bureau para comentar. A BluBrasil também não.
Um relatório da Greenpeace de 2021 também descobriu que a mesma fábrica da Marfrig estava ligada à destruição do Pantanal, outro bioma brasileiro e berço da biodiversidade.
A Marfrig confirmou que o fornecedor em questão estava registado como fornecedor indirecto, mas afiançou que o mesmo se encontrava em conformidade com as suas políticas na época. A empresa acrescentou que a monitorização de fornecedores indirectos é “um dos maiores desafios da cadeia pecuária brasileira”, mas que trabalha “incansavelmente para mitigar qualquer vínculo entre o desmatamento ilegal e outras irregularidades na sua cadeia produtiva, tanto na Amazónia quanto nos demais biomas”.
A Gelnex, por sua vez, vende colagénio para produtos de saúde, ingredientes alimentícios, entre outros items, globalmente. Obtém peles de gado da Durlicouros, um fabricante de couro brasileiro que as limpa e descarna após o abate. Nesta fase, as peles cruas são tratadas para evitar o apodrecimento antes que as camadas de pele sejam divididas em cadeias separadas de produção de couro e colagénio.
Lote de gado num matadouro da Minerva, em Araguaína. Centenas de bovinos abatidos aqui são criados em fazendas que invadem a Mãe Maria e outras terras indígenas.
A Durlicouros obtém as suas peles de gado abatido nos matadouros da JBS e da Minerva, de acordo com várias entrevistas efectuadas a camionistas e outras fontes locais. Centenas desse gado são criadas em fazendas que invadem a Mãe Maria e outras terras indígenas.
Num contacto recente com os investidores, o CEO da Darling Ingredients, Randall C. Stuewe, afirmou que a aquisição da Gelnex aumentaria enormemente a produção de colagénio da empresa.
A Gelnex declarou ao TBIJ: “Todas as matérias-primas utilizadas pela empresa são provenientes de fornecedores aprovados, devidamente registados perante os órgãos reguladores aplicáveis e legalmente autorizados a operar de acordo com as leis vigentes”.
O curtume DurliCouros informou que “atende aos mais rígidos padrões de sustentabilidade nacionais e internacionais”. Tanto a Durlicouros como a BluBrasil receberam a classificação ouro da Leather Working Group (LWG), associação do sector que avalia a sustentabilidade dos membros. A LWG disse ao Bureau que este é um “tópico complexo” e que trabalhará por um padrão “100% de desmatamento e conversão livre até 2030 ou antes”.
A JBS referiu que, embora existisse desmatamento em algumas das fazendas identificadas, as suas compras eram “totalmente compatíveis” com os seus protocolos de aquisição e monitorização, além de que outras aderiram aos seus padrões.
O terceiro maior frigorífico brasileiro, o Minerva, frisou que trabalha para garantir que o gado adquirido não seja proveniente de propriedades com áreas ilegalmente desflorestadas, adicionando que vigia “100% dos fornecedores directos”.
A Nestlé disse que as alegações levantadas não correspondem ao seu compromisso com o fornecimento responsável e contactou o seu fornecedor para o assunto ser investigado. Também anunciou que está a tomar medidas para garantir que os seus produtos sejam livres de desmatamento até 2025.
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Uma versão desta investigação também surgiu no UOL.
Imagem principal: Kátia Silene Akrãtikatêjê, líder do povo Gavião
Repórteres: Elisângela Mendonça, Andrew Wasley e Fábio Zuker
Colaborador: Centro de Análise de Crimes Climáticos
Filmagem e fotografia: Cícero Pedrosa Neto
Produtora de vídeo e produtora de impacto: Grace Murray
Editor de vídeo: Oliver Kemp
Animação: Jules Bartl
Editor de ambiente: Robert Soutar
Editor global: James Ball
Editor: Meirion Jones
Produção: Frankie Goodway
Verificador de factos: Alice Milliken`
Esta história foi produzida com o apoio da Rainforest Investigations Network do Pulitzer Center. O nosso projeto Food and Farming é parcialmente financiado pela Quadrature Climate Foundation e parcialmente pela Hollick Family Foundation. Nenhum dos nossos financiadores tem qualquer influência sobre as nossas decisões ou resultados editoriais.
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Apesar de estar associada aos produtos de origem animal, a lisina também está presente nas plantas.
Enquanto na maioria das hortaliças encontra-se em pequenas quantidades, outros alimentos são uma fonte mais rica e, por isso, devem ser acrescentados na alimentação. Os adolescentes e adultos devem ingerir 40 mg de lisina por quilo de peso corporal: por exemplo, como peso 50 quilos preciso de 2000 mg diários de lisina.
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Breve nota: Este texto é uma interpretação da cultura e da mitologia gregas a partir de leituras e de estudos feitos, tendo, portanto, um cunho pessoal.
O perambular do tempo despertou milhares de sensações que os seres humanos desconheciam. Essas sensações tanto maravilhava-os, como surpreendia-os ou aterrorizava-os abismalmente, ao mesmo tempo que as interrogações e as dúvidas em relação a determinados fenómenos exigiam respostas transformadas nas acções que comprometeram-se na construção da civilização humana e que, actualmente, oferecem alicerces para compreendermos o que somos hoje através do ontem. Desde o gradual entendimento do que é a morte, e de como este entendimento ramificou-se em rituais que actualmente continuam a suceder (como o sepultamento) e em crenças variadas (como a reencarnação e o contacto com os mortos através do xamã), à interpretação do universo onírico, à comunicação sem linguagem através da arte, entre outros aspectos, o ser humano descobriu-se ao reconhecer as suas capacidades mentais, intelectuais, físicas, emocionais e sociais e interligou-as para formar um casulo que desenvolveu-se até dar à luz as primeiras civilizações. O mito é uma das crianças que nasceu desse desenvolvimento racional e desse maravilhoso achado, permanecendo imorredouramente vital na nossa vida e na nossa cultura.
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Já vos falei que cosmética natural é amor, não já? Por mais que eu queira experimentar marcas convencionais e facilmente encontradas em supermercados, até mesmo para partilhar convosco uma opinião sobre, a minha pele costuma ser intolerante a novidades e acabo por preferir não arriscar. Também é o motivo principal para não trocar alguns produtos que fazem parte da minha rotina diária – e o creme facial da Miristica é um deles.
Foi precisamente esse factor que me fez apaixonar por este hidratante: admito que, nas primeiras vezes, usei-o com algum medo porque a minha pele rabuja com quase tudo e mais alguma coisa. Foi um suspiro imenso de alívio quando tal não sucedeu, pelo que continua a ser a minha opção após quase dois anos. É para pele normal ou oleosa, sendo a minha mista e sensível e comigo tem sido excelente.
Além da tendência para as borbulhas também tenho a pele desidratada (não é o mesmo que pele seca, atenção) e este creme consegue tratar de ambos os problemas: logo na primeira aplicação senti a pele mais suavizada nas zonas em que costuma estar desidratada. Após várias utilizações, passei a ter raramente borbulhas e a tez ficou muito mais equilibrada. Nem sinto mais que a minha pele é mista, de tão uniforme que está. Posso afirmar, sem receio de hiperbolizar, que este é o melhor hidratante que alguma vez experimentei (e acreditem, já experimentei uma quantidade suficiente para encher uma loja 😆).
E, como se toda essa alquimia bonita não bastasse, ainda tem um cheiro maravilhoso: não sei bem explicar mas faz-me pensar num prado orvalhado com um enorme limoeiro. É muito leve e fresco, algo que aprecio por não ser fã de aromas fortes. Espalha-se muito bem na pele (não é como alguns cremes em que temos de ficar meia hora a massagear o rosto até tudo ficar bem absorvido) e deixa-a bonita e matizada em três tempos. Eis alguns dos ingredientes-chave que o tornam mágico:
Água floral de alfazema, que refresca e acalma a pele;
Óleo de coco, com propriedades altamente hidratantes;
Óleo de grainha de uva, que também hidrata a pele além de a proteger de radicais livres;
Óleo essencial de ylang-ylang, com acção seborreguladora;
Óleo essencial de tea tree, purificante e tonificante.
O creme facial Miristica vem num frasco de vidro opaco e custa entre 14 a 21 euros.
MIRISTICA
100% vegana, 0% de crueldade ♡
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