07/07/2023

Sobre mudanças e recomeçar


Pois é. O desenrolar da vida é uma montanha-russa repleta de metamorfoses que nos levam a redefinir as nossas prioridades. É um tecer de casulo que começa por ser confuso, até mesmo doloroso. Muitos novelos amontoam-se na cabeça e embrulham-nos o estômago com a sensação de um vazio que teima em invadir o nosso âmago quando mudanças abruptas surgem, qual turbilhão que se forma sem qualquer aviso. Mas quando abraçamos esta tempestade que, inicialmente, nos magoa, a calma irrompe e abraça-nos de volta. E que bom nos apercebermos que é dessa calma que precisamos, em vez de contra ela lutarmos.

Desde 2021 que me mentalizei que ia deixar de conseguir escrever no blogue com frequência. Foi assoberbante reconhecê-lo, já que esta minha casinha digital, a escrita e a causa animal são-me ternamente importantes. Ainda tentei equilibrar todos os pratos que já tinha e os novos que repentinamente se empilharam, mas a saúde mental começou a vergar, perigosamente, com tanto peso. E, antes que a mesma se estilhaçasse, eu própria deixei que alguns desses pratos caíssem.

Neste caso, as redes sociais.

Decidi sair do Instagram. As exigências da transmutação bonita (e também bastante caótica, mas sobretudo bonita) que ocorreu no meu quotidiano mostraram-se incompatíveis com o ritmo imposto pelas redes sociais: um ritmo sufocante, que me pressionava a criar conteúdo mesmo estando sem ideias, disposição e, principalmente, tempo.
Desacelerar era vital. No entanto, quando ficava alguns dias sem publicar, a punição revelava-se severa: tanto era o algoritmo que me invisibilizava, cortando o alcance do meu trabalho, como as próprias seguidoras não perdoavam e paravam imediatamente de o ser. Então, na tentativa impossível de equilibrar todos os tais pratos, negligenciei o blogue.

E negligenciei-me a mim.

Sentia que precisava de aplicar uma dedicação ao Instagram que não podia dar. Estava em negação por acreditar cegamente que, ao mínimo milímetro de inactividade, estava a falhar com os animais. Acreditava que atingir uma certa quantidade de gostos era fulcral e que tal tanto espelhava a qualidade do meu trabalho como o quanto eu tinha conseguido divulgar sobre a causa. Estava presa numa teia de insanidade que eu própria originei.

Outra situação que alimentava ainda mais todas estas camadas danosas era o formato curto das descrições, que me forçava a encafuar dizeres tão complexos em meia dúzia de linhas. Não poder escrever sem limite de caracteres frustrava-me imenso.

A fragilidade da minha saúde mental devorava compulsivamente toda esta nuvem de veneno e, aos poucos, compreendi que não podia continuar mais. Tinha deixado de ser eu: sentia-me um autómato frio e metálico em vez de uma coisa orgânica, feita de carne e sonhos, e isso provocou muitas feridas.

Vivemos num momento em que privilegiamos conteúdo dinâmico mas que seja o mais compactado possível, para simplesmente o mastigarmos e descartamos ao fim de dois minutos. Textos longos são a total antítese de tudo isso e, consequentemente, a resistência aos blogues é enorme. Quando parei de postar no Instagram (ainda permaneci nos stories, mas em vão) as visitas por aqui caíram a pique: de início foi chocante, já que estava habituada a receber milhares de visualizações diárias, e cheguei a considerar voltar a passar raiva no Instagram, mas o desejo de escrever sobre os direitos dos animais com a devida atenção que merece, de desenvolver argumentos e de produzir artigos com qualidade não mo permitiu e ainda bem. E, maiormente, ser incapaz de conciliar a vida pessoal com toda esta azáfama tecnológica também não mo permitiu,
e ainda bem.

Assim, com esta mudança o meu trabalho deixou de ficar fragmentado, abrindo o espaço que eu necessitava para voltar ao conceito inicial do blogue – textos mais reflexivos e teóricos sobre ética animal. Foi uma peça fundamental que acabou por ficar olvidada e não pretendo repetir esse erro.

Poder respirar fundo e utilizar as horas que despendia em publicações do Instagram para atender as minhas novas responsabilidades foi crucial para a cicatrização das sevícias emocionais. Ter optado por ficar exclusivamente com o blogue e saber que, nele, posso escrever à vontade tirou uma carga monstruosa dos meus ombros. Sim, vou deixar (na verdade já deixei) de ter inúmeras leitoras mas, depois de olhar para a situação num todo, aceitei que esse sacrifício, além de inevitável, é necessário. Finalmente estou genuinamente feliz e, para mim, essa alegria passou a ser mais relevante do que números.

A todas as pessoas que me liam e pararam de o fazer; a quem seguia o meu trabalho somente pelo Instagram e, por isso, deixou de acompanhar; a quem ainda me acompanha: com todas as artérias do meu coração, agradeço a cada uma de vós. Ideias e projectos estão a fermentar na minha cabeça e espero partilhá-los, quiçá, num futuro próximo e quando o tempo for suficientemente livre para o conceder ♥