João Rodrigues foi um dos fotógrafos que se destacou no Underwater Photographer of the Year, um concurso fotográfico dedicado exclusivamente ao tema subaquático. O português ficou em segundo lugar na categoria de conservação marinha, ao captar uma móbula a ser cortada com uma catana. A fotografia foi considerada “a mais angustiante” pelos juízes, cuja mensagem intransigente deve ser vista “pelo maior número de pessoas possível”.
As móbulas são capturadas e trazidas pelos aldeões para o porto de pesca de Munca (localizado no leste de Java), o segundo maior porto da Indonésia. Vítimas da pesca acidental, as suas guelras são extraídas e exportadas para a China, onde são usadas no fabrico de medicamentos tradicionais.
A imagem registada pelo português, durante uma missão da National Geographic Portugal, mostra um desses animais a ser retalhado com uma catana típica da Indonésia. João Rodrigues escolheu este momento dramático para “denunciar a exploração desses animais carismáticos” e para “consciencializar sobre essa cruel realidade”.
Nessa mesma expedição, um biólogo marinho da Universidade dos Açores estava a estudar a biologia sensorial dos mobulídeos, o que ajudou a desenvolver novos métodos para reduzir situações como esta – as chamadas capturas acessórias, ou bycatch. “Sem esforços de conservação, esses peixes alados, que nadam através da água como anjos, podem estar, em breve, em perigo devido à sobrepesca”, alertou João Rodrigues.
À Lusa, o fotógrafo acrescentou: “Num mundo em que os recursos naturais estão a ser explorados a um ritmo frenético e de uma forma não sustentável, a imagem representa, de certa forma, todos os animais que se encontram em perigo de desaparecimento e que mais do que nunca precisam que a sua realidade seja mostrada à comunidade para que sejam tomadas medidas de conservação.”
Para além de fotógrafo, João Rodrigues é biólogo, especializado em História Natural e Conservação e mestre em Biodiversidade e Conservação Marinha. Actualmente, está a preparar um livro e um filme sobre os cavalos-marinhos da Ria Formosa, que se encontram em risco de extinção. A obra, com o nome Cavalos de Guerra, tem o lançamento previsto para este Verão, com o filme agendado em Agosto e o livro em Setembro.
Segundo João Rodrigues, o projecto reúne “cientistas, políticos, organizações ambientais, entidades públicas e privadas e toda a comunidade com um objectivo comum: salvar um dos tesouros mais valiosos de Portugal, o enigmático cavalo dos mares”.
Outrora considerada a maior comunidade do mundo, os cavalos-marinhos estão a desaparecer a um ritmo preocupante na Ria Formosa, no Algarve. Assim como as móbulas, são também explorados pelo mercado asiático.
Querem salvar os oceanos e os seus habitantes? Parem de comer peixe
Muito se fala do plástico como alvo a abater na luta pela salvação e conservação dos ecossistemas marinhos, quando a pesca continua a ser a maior causadora do desequilíbrio desses mesmos ecossistemas.
De acordo com a National Oceanography Centre, a The Royal Society for the Protection of Birds e a FAO, a pesca mata por ano:
300,000 cetáceos (baleias, golfinhos, toninhas, entre outros mamíferos marinhos);
300,000 aves marinhas (sendo que 29 espécies de aves marinhas encontram-se ameaçadas devido a um método de pesca comum, o palangre).
9 em 10 animais são descartados, por serem acidentalmente capturados pela pesca. Por ano, 27 milhões de toneladas de animais marinhos são descartadas, em resultado da captura acessória. [fonte]
As palhinhas continuam a ser o símbolo do boicote ao plástico, sendo que perfazem menos de 1% da poluição total de plástico nos oceanos, enquanto as redes de pesca atingem os 46%. Por outras palavras, se quisermos realmente reduzir o plástico nos oceanos também devemos deixar os peixes, crustáceos e outros animais marinhos fora do prato.
As redes de pesca duram até 600 anos (as palhinhas duram 100), sendo que, anualmente, mais de 640,000 toneladas de redes de pesca são abandonadas nas águas. Estima-se que essas “redes fantasma” matem mais de 650,000 animais no mesmo período de tempo, incluindo golfinhos, baleias, tubarões, tartarugas, entre outros.
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A conservação da vida e dos ecossistemas marinhos começa pelos nossos hábitos alimentares. Juntem a compaixão a essa luta, inscrevam-se no Desafio Vegetariano e salvem milhares de animais com essa simples mudança. Para mais material de receitas e culinária vegetariana, visitem a biblioteca do blogue.
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Fotografia | ©Underwater Photographer of the Year 2019/João Rodrigues
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