Quando parei de comer animais, o blogue da Maria de Oliveira Dias foi o primeiro que descobri e que muito me ajudou. O seu trabalho, que alia a alimentação natural e saudável ao que mais adoramos comer, é uma inspiração e, por isso, não podia deixá-la de fora desta rubrica. Apaixonada pelos animais desde pequena, desafiou os hábitos convencionais ainda na infância: agora, transmite os valores da justiça e da compaixão ao seu filho. Venham conhecê-la um pouco melhor ❤
Fala um bocadinho de ti e do teu projecto.
Sou a Maria, sou vegetariana desde os 12 anos, puramente por razões éticas. Ao longo do tempo fui descobrindo que as razões são mais amplas: o planeta, as pessoas e a saúde também beneficiam com essa escolha. Em 2010 criei o blogue The Love Food com o objectivo de partilhar o quão simples, delicioso e benéfico é optar por uma alimentação saudável e vegana. 4 anos depois criei uma empresa com o mesmo nome e hoje dedico-me à consultoria e desenvolvimento de receitas.
Quando te tornaste vegana? Quais foram os motivos principais?
Há cerca de 10 anos. Porque descobri a forma de comer deve ser feita com respeito. Depois porque todas as escolhas que fazemos têm impacto no mundo.
Como foi a tua alimentação durante a gravidez?
Igual.
Como health coach e mãe, o que recomendas às mulheres grávidas que gostavam de ser vegetarianas mas que têm dúvidas?
Aconselho a comprarem o meu livro novo 🙂 Tenho tudo lá explicadinho, tim tim por tim tim. Não complicar e ouvir o corpo é fundamental.
Numa entrevista, disseste que “Deixámos de pensar em alimentos para pensar em nutrientes”. As grávidas e as lactantes estão incluídas nessa afirmação ou são casos à parte, em que os nutrientes têm mesmo de ficar acima dos alimentos?
Não há casos à parte: uma alimentação completa e diversificada serve para qualquer pessoa. De qualquer maneira é importante fazer as análises necessárias e compensar da forma possível as carências que possam existir.
Arte de Catie Atkinson
Depois de teres publicado o teu primeiro livro de receitas, fizeste outro específico para bebés e crianças. Em que te baseaste e o que pretendes transmitir com esse livro?
Tentei desmistificar, mais uma vez. Quando fiquei grávida ouvi sempre que não poderia ser vegana durante a gravidez. Depois do meu filho nascer, ouvi que ele não poderia ser vegano. É possível e é simples ter e dar uma alimentação saudável, deliciosa e vegana a toda a família, apostando em ingredientes da estação, de produção local e controlada, cereais integrais, leguminosas, oleaginosas, algas, sementes, enfim, tudo na sua forma mais pura. É o que dará um suporte nutritivo, completo e balanceado. É preciso pensar naquilo que comemos e, sobretudo, no que damos aos nossos filhos depois de amamentar. As papas empacotadas não são boas. Dou imensas sugestões de papas simples e variadas que se podem facilmente fazer em casa, e muitas receitas fáceis e rápidas que são boas para o dia-a-dia de uma família.
Apesar da crescente informação sobre alimentação vegetariana e saudável, ainda há muitas barreiras (familiares, sociais, médicas, etc.). Como podem os pais contorná-las?
Imensas! É incrível continuar a ouvir os mesmos comentários que ouvia quando me tornei vegetariana aos 12 anos. E hoje é tão fácil, há tanta informação fidedigna. Por exemplo, eu demorei alguns meses a encontrar o pediatra perfeito. Se não serve, muda-se. Se aquilo em que acreditamos e fazemos em casa funciona para nós e para a nossa família, o melhor que temos é explicar as nossas razões a quem nos impõe barreiras e manter o que funciona. Se explicar não vale a pena, a solução é sorrir e seguir em frente.
A teu ver, como devemos abordar o veganismo às crianças?
Qualquer criança distingue o bem do mal. Nenhuma criança comeria animais se soubesse que são animais. Basta explicar de onde vem e como funciona o processo. É cru, mas é a verdade.
O veganismo é mais do que justiça: também é um movimento político. Vês a maternidade vegana como um tipo de militância, em que a educação dos mais novos é importante nesta luta pelos animais?
Não o vejo como movimento político. Para mim a economia funciona melhor como motor do que a política, e pessoas bem informadas fazem escolhas que mudam o mundo. Se ninguém comprasse carne não se venderia carne, poucas leis seriam tão eficazes como a escolha económica. Em relação ao meu filho, tento passar-lhe os melhores valores do respeito por todos, na esperança que sejam sementes que dêem frutos e que ele seja uma pessoa, de facto, civicamente responsável. ■
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