A maravilhosa Filipa Range é a criadora d'A Cozinha Verde e, assim como outras mães veganas, irradia saúde e mostra como é perfeitamente compatível ter uma alimentação sem quaisquer produtos de origem animal durante a gravidez e amamentação. Os bebés e as crianças também estão incluídos, com estudos médicos que indicam que a nutrição à base de plantas consegue ser mais benéfica para eles quando bem planeada. A chave está em distribuir bem os nutrientes a partir de refeições variadas, aspecto que a Filipa respeita e que partilha aqui connosco, bem como outras experiências e a sua visão enquanto vegana e mãe de um alegre e saudável rebento.
Fala um bocadinho de ti e do teu projecto.
O meu nome é Filipa Range, tenho 30 anos e vivo em Lisboa. Sou vegana, mãe de primeira viagem, food blogger e fundadora d’A Cozinha Verde.
A Cozinha Verde tem como principal missão inspirar os portugueses a adoptar hábitos alimentares mais saudáveis, ecológicos e compassivos, através de uma alimentação 100% vegetal. Para além de um blogue com receitas e artigos sobre o veganismo, criei, em parceria com uma produtora, uma série online de receitas vegan, que pode ser vista gratuitamente no canal de YouTube.
Lecciono regularmente workshops de cozinha, palestras e eventos relacionados com alimentação saudável e vegetariana no geral, para empresas e particulares. Para quem pretenda conhecer esta alimentação de uma forma mais personalizada, criei o “Vegan em casa by A Cozinha Verde”, um workshop personalizado e realizado em casa do cliente, 100% adaptado às suas necessidades.
Para além da componente de coaching e formação, A Cozinha Verde oferece também um serviço de catering e entregas ao domicílio de comida vegetariana. Pretendemos descomplicar a alimentação vegan, com receitas práticas e simples para o dia-a-dia, com alimentos de verdade, sem recorrer a ingredientes nocivos com nomes impronunciáveis e sempre com muito sabor e amor.
Quando te tornaste vegana? Quais foram os motivos principais?
Em Janeiro de 2013 vi o documentário que viria a mudar a minha alimentação e estilo de vida, o Earthlings. Resumidamente, este filme aborda todas as temáticas relacionadas com a exploração animal, o meio ambiente e a saúde. Tinha 25 anos quando o vi e foi o meu primeiro contacto com o veganismo. Nunca tinha parado para pensar no impacto que as minhas escolhas diárias tinham na vida de outros seres, na minha saúde e no planeta. O veganismo passou assim naturalmente a fazer parte da minha vida. Retirei da minha alimentação tudo o que tivesse origem animal. Deixei de comprar vestuário e calçado feito de peles de animais, preferindo os tecidos mais naturais e orgânicos e provenientes de comércio justo. Os produtos de cosmética e limpeza da casa passaram também a ter escrito no rótulo not tested on animals e ganhei preferência por opções mais ecológicas (e amigas da carteira), como as nozes de saponária, shampoos sólidos, óleo de coco, vinagre e bicarbonato de sódio, entre outras soluções maravilhosas. Não participo em eventos e espectáculos que promovem a exploração animal, como circos, touradas ou zoológicos. O que começara com uma motivação ética, rapidamente se tornou num estilo de vida saudável que melhorou significativamente a minha vida.
A nível geral, como foi a tua alimentação na gravidez?
Tive uma gravidez muito tranquila, sem nenhuma preocupação ou problema pelo caminho. Tive os cuidados básicos que qualquer mulher, independentemente do seu regime alimentar, deve ter nesta fase da sua vida.
Não fiz mudanças substanciais na qualidade da minha alimentação durante a gravidez. Mantive uma alimentação muito similar àquela que fazia anteriormente, com uma forte aposta nos vegetais de folha verde (ricos em nutrientes tão importantes como o ferro e o cálcio) e nas frutas frescas, que me ajudaram a saciar a vontade dos doces. Procurei fazer uma alimentação vegetariana saudável e equilibrada, à semelhança do que já fazia.
Arte de Catie Atkinson
O que dirias às mulheres grávidas e às mães que gostavam de ser vegetarianas mas que têm dúvidas?
É muito importante estarmos seguras das opções que tomamos. Nos últimos anos, tem sido cada vez mais divulgado em vários canais (incluindo no novo manual da Direcção Geral de Saúde dedicado a este tema) os benefícios de uma alimentação vegetariana equilibrada em todas as fases da nossa vida (gravidez e lactação incluídas). Se o tema do vegetarianismo vos interessar, procurem informação credível e ajuda junto de um profissional (se necessário) para se sentirem seguras da decisão que estão a tomar. Aconselho a leitura do meu livro A Cozinha Verde, lançado em Janeiro deste ano pela editora Nascente (encontram à venda em todas as livrarias e hipermercados). Mais do que um livro de receitas deliciosas e indicadas para toda a família, este livro funciona como um guia para quem quer mudar os seus hábitos alimentares.
Quais são os produtos cruelty-free que mais gostas e que aconselhas para as pré-mamãs e bebés?
Durante a gravidez, para prevenir o aparecimento de estrias, utilizei numa base regular óleo de amêndoas doces puro. Sou muito minimalista no que diz respeito a produtos de cosmética e este óleo foi, no meu caso, suficiente e eficaz.
Com o Lourenço, uso o sabonete líquido 18 em 1 do Dr. Bronner's e óleo de coco virgem e biológico desde que ele nasceu. Ainda hoje, com 18 meses, estes são os únicos produtos de cosmética que utilizo com o meu filho numa base regular. Independentemente das marcas, privilegio sempre produtos naturais, sem químicos e substâncias nocivas (e sempre veganos, ou seja, sem ingredientes de origem animal e não testados em animais).
Apesar da crescente sensibilização e informação sobre a amamentação natural, o leite de fórmula continua a ser classificado como um alimento essencial para a saúde infantil. Como mãe de uma criança vegana, o que pensas disto?
Honestamente, considero a questão da amamentação muito pessoal e não faço de todo julgamentos de valor. Apesar de ter decidido (e conseguido!) amamentar o Lourenço, há muitos casos em que por motivos vários as mães precisam de recorrer ao leite de fórmula. Para os vegetarianos, existem alternativas ao leite de vaca, como a fórmula de soja ou de arroz. Na minha opinião pessoal (livre de julgamentos), considero que o leite materno é o melhor alimento (e o melhor mimo) que posso dar ao meu filho. Com quase 2 anos continuo a amamentar o meu filho, apesar de ele já fazer uma alimentação dita normal. Enquanto continuar a fazer sentido para ambos, assim continuaremos.
Arte de Stepha Lawson
O que não pode faltar na alimentação dos bebés e das crianças?
Vai depender um pouco da idade. Com 18 meses o Lourenço já faz uma alimentação normal, com todos os momentos de refeição diários (pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar). Desde os 6 meses, altura em que comecei a introduzir os alimentos sólidos, que tento que ele faça uma alimentação o mais variada possível, rica em vegetais, frutas, cereais integrais, leguminosas e oleaginosas, por exemplo. Embora não façamos uma alimentação 100% bio, a grande maioria dos frescos que consumimos são biológicos. Não lhe dou processados (a não ser muito ocasionalmente!) nem açúcar (opto pela fruta, como as tâmaras por exemplo). As papas que ele come são feitas em casa, com flocos de cereais ao invés de farinhas (e não demoro mais do que 5 minutos a fazê-las). Embora no geral o Lourenço coma bem e aceite alimentos novos, começamos a ter fases em que rejeita certas coisas. Nestes casos não forçamos, tento oferecer coisas novas (nós também nos enjoamos daquilo que comemos, porque haveria de ser diferente com os bebés?) e tenho sempre a segurança da maminha (essa nunca rejeita ahah) que continua a ter os nutrientes necessários para o seu crescimento e desenvolvimento.
As escolas continuam a transmitir informações especistas às crianças, tanto nos livros como em visitas de estudo a oceanários e jardins zoológicos. Como vais lidar com isso futuramente?
Não sei, tento não pensar muito nisso neste momento. O Lourenço ainda não está na creche mas, quando tiver de lidar com estas questões, sei que farei o meu melhor para transmitir o motivo pelo qual nós não comemos animais e não apoiamos eventos/locais em que estes vivam em cativeiro.
Muitas pessoas acusam os veganos de forçarem as suas crenças aos seus filhos. Queres deixar alguma mensagem para elas?
Todos nós fomos educados segundo as crenças dos nossos pais ou cuidadores. Nunca ouvi ninguém acusar um pai/mãe/cuidador de forçar a sua crença de comer carne ao seu filho. Porque se coloca essa questão em relação a um vegetariano? Não faz sentido. 😊
Quando os nossos filhos são pequenos e dependem inteiramente de nós, temos o dever de cuidar deles da forma que nos faça mais sentido. Nunca iria dar açúcar ao meu filho, assim como nunca lhe iria dar carne. Não se trata de teimosia nem tão pouco de forçar uma crença. Trata-se de querermos dar o melhor aos nossos filhos e educá-los de acordo com os nossos valores. Não será isso que todo e qualquer pai/mãe/cuidador faz com os seus pequenos, até que eles ganhem maturidade suficiente para fazer as suas próprias escolhas? ■
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