Não é cliché afirmar que um indivíduo que maltrata animais terá coragem de fazer o mesmo com o seu semelhante. Obviamente que erramos ao cair numa falácia de generalização precipitada ao considerar todas as pessoas, com acções que colocam em causa a integridade física e psicológica de um animal, como potencialmente comprometedoras para a segurança da comunidade humana, mas não devemos ficar indiferentes aos números preocupantes e que tomam como garantida a ligação entre psicopatia e crueldade animal na maioria dos casos. E, por isso, não devemos ficar indiferentes quando alguém violenta um animal: o que aparenta ser um acto lamentável à vista de muitos poderá, eventualmente, ser um alerta para algo mais grave.
Através de várias investigações levadas a cabo pelo FBI, chegou-se à conclusão que cerca de 80% dos homicidas começam a tecer os seus mantos criminosos matando animais. Dos vários casos reveladores do paralelismo entre a crueldade com animais e a crueldade com humanos, um dos mais conhecidos é o dos jovens spree killers (para uma distinção entre spree killers, serial killers e mass murderers, ver este texto d'O Aprendiz Verde) que ficaram conhecidos como os maníacos de Dnepropetrovsk: os comportamentos bárbaros de Viktor Sayenko e Igor Suprunyuck começaram através da tortura e morte de vários cães e gatos. Insatisfeitos com o sadismo que aplicavam, exibiam os seus actos nas redes sociais publicando fotografias dos animais enforcados, posando frequentemente ao lado das vítimas.
Não demoraram muito em substituir os animais pelos humanos. Dos alegados 21 assassinatos cometidos chegaram a filmar alguns: a gravação mais conhecida pode ainda ser encontrada na Internet. No vídeo é possível ver um deles a golpear brutalmente a vítima na cabeça, perfurando-lhe postumamente o corpo com uma chave-de-fendas. O riso que deixam escapar ocasionalmente sufoca ainda mais o ambiente macabro protagonizado. A vítima, Sergei Yatzenko, tinha 48 anos.
Para além de desfigurarem as vítimas com golpes de martelo ou com uma barra de ferro, os dois jovens costumavam mutilá-las arrancando os olhos, cortando as orelhas ou eviscerando-as – exactamente como faziam com os animais.
Viktor Sayenko e Igor Suprunyuck acabaram por ser condenados à prisão perpétua. Alexander Hanzha, um cúmplice que foi acusado de dois assaltos à mão armada, não participou activamente nos assassinatos mas também matou animais. A crueldade com animais foi listada nas três condenações.
O abuso contra animais não deve ser ignorado mas encarado como uma manifestação de agressividade latente que pode evoluir para um comportamento violento contra humanos. Proteger os animais é proteger as pessoas: a urgência de uma verdadeira lei que penalize os maus-tratos e a morte de animais constituirá uma barreira de segurança no seio da sociedade, bem como promoverá conscientização perante o problema dos maus-tratos a animais.
Psicopatia e zoosadismo: Uma conexão bastante antiga
Por muito tempo, matar animais foi considerado algo tão natural como respirar. De facto, as emoções dos animais só passaram a ser investigadas com mais profundidade por volta do século XIX, quando os primeiros estudos sobre esse tema começaram a surgir. Charles Darwin foi um dos primeiros cientistas a escrever sobre a existência e a natureza das emoções em animais. Visto a descoberta da senciência animal ser relativamente recente, podemos conjecturar que a falta desse conhecimento científico atrasou, de alguma maneira, a sensibilização humana perante o sofrimento dos animais e, consequentemente, alimentado um antropocentrismo que dizimou incontáveis vidas não-humanas, tanto pela indiferença, como pelo sentimento de superioridade ou por pura crueldade.
Relatos históricos do passado ajudam a demonstrar o carácter instável de alguém que barbariza e mata pessoas, assim como barbariza e mata animais. Abaixo, seguem alguns exemplos de personalidades bem conhecidas:
Gilles de Rais foi um soldado que lutou em diversas batalhas contra os ingleses ao lado de Joana D'Arc, mas que entrou para a história por torturar, violar e matar centenas de crianças. Considerado por alguns historiadores como precursor do assassino em série moderno, o nobre francês já demonstrava a sua brutalidade aos 14 anos, maltratando e matando animais. Rapidamente virou-se para os seres humanos, cometendo o seu primeiro assassinato com 15 anos. A sua conduta repugnante, impregnada de devassidão e genuína maldade, só acabou quando foi condenado à morte.
Não há certezas, mas é bastante provável que Elizabeth Báthory (Báthory Erzsébet em húngaro) tenha adquirido os seus gostos truculentos ao torturar e matar animais durante a infância. Báthory era uma condessa de uma renomeada família e é considerada uma das assassinas em série mais perversas e prolíficas de sempre. Aproveitando-se do seu título nobiliárquico e de uma época em que os pobres mal eram classificados como humanos, vilipendiou, torturou e assassinou mais de 650 meninas, jovens e mulheres. A sua loucura sanguinolenta só parou 19 anos depois, quando matou uma jovem nobre. Ficou eternizada como “a condessa sangrenta”, tanto pelo seu sadismo ilimitado como pela lenda de que se banhava com o sangue das vítimas como ritual de beleza rejuvenescedor. Muitos chegam a compará-la com Vlad Țepeș.
Relatos históricos do passado ajudam a demonstrar o carácter instável de alguém que barbariza e mata pessoas, assim como barbariza e mata animais. Abaixo, seguem alguns exemplos de personalidades bem conhecidas:
Gilles de Rais foi um soldado que lutou em diversas batalhas contra os ingleses ao lado de Joana D'Arc, mas que entrou para a história por torturar, violar e matar centenas de crianças. Considerado por alguns historiadores como precursor do assassino em série moderno, o nobre francês já demonstrava a sua brutalidade aos 14 anos, maltratando e matando animais. Rapidamente virou-se para os seres humanos, cometendo o seu primeiro assassinato com 15 anos. A sua conduta repugnante, impregnada de devassidão e genuína maldade, só acabou quando foi condenado à morte.
Não há certezas, mas é bastante provável que Elizabeth Báthory (Báthory Erzsébet em húngaro) tenha adquirido os seus gostos truculentos ao torturar e matar animais durante a infância. Báthory era uma condessa de uma renomeada família e é considerada uma das assassinas em série mais perversas e prolíficas de sempre. Aproveitando-se do seu título nobiliárquico e de uma época em que os pobres mal eram classificados como humanos, vilipendiou, torturou e assassinou mais de 650 meninas, jovens e mulheres. A sua loucura sanguinolenta só parou 19 anos depois, quando matou uma jovem nobre. Ficou eternizada como “a condessa sangrenta”, tanto pelo seu sadismo ilimitado como pela lenda de que se banhava com o sangue das vítimas como ritual de beleza rejuvenescedor. Muitos chegam a compará-la com Vlad Țepeș.
Por falar em Vlad Țepeș (Vlad III, Vlad o Empalador, Vlad Drăculea em romeno), não foi por acaso que ele inspirou Bram Stoker na criação do Drácula, personagem épica que ficou imortalizada no nosso imaginário. O príncipe da Valáquia era popular pelos seus actos infames, que exibia nas suas horas de almoço com requintes de malvadez: Drăculea tinha como hábito matar os seus inimigos por meio do empalamento, deixando-os a agonizar durante horas ou até mesmo dias. As vítimas sofriam ininterruptamente, enquanto o sol queimava-lhes a epiderme que ocultava os seus órgãos a sucumbir ao sistema tortuoso.
Quando Vlad Țepeș foi preso a mando do rei Matthias Corvinus (Mátyás Hunyadi em húngaro), em 1462, a sua sede pela crueldade não diminuiu e continuou com o seu passatempo preferido, mutilando e torturando pequenos animais que conseguia capturar na sua cela. Pássaros e camundongos acabavam decapitados ou esfolados e depois soltos, embora muitos fossem empalados em pequenas lanças improvisadas.
Vlad Țepeș não foi o único a descarregar a sua agressividade nos animais: Thomas Edison, o famoso inventor e cientista, também protagonizou cenas lamentáveis por encontrar-se em guerra aberta com o também inventor Nikola Tesla. O primeiro defendia o uso da corrente contínua e o segundo o uso da corrente alternada. Este atrito levou um enfurecido Edison a electrocutar animais para convencer o público dos perigos da corrente alternada. O vídeo que o próprio gravou da electrocussão de Topsy, a elefanta, pode ser encontrado na Internet.
Sexismo e especismo: Duas discriminações interligadas
Os direitos dos animais ainda são um tema calorosamente debatido que divide a opinião pública. Quem desconsidera a existência dos direitos dos animais não-humanos, no geral, argumenta que estes não têm deveres – o que retira-lhes quaisquer privilégios. Coincidência ou não, quando esta ideia foi filosoficamente enraizada houve uma queda de valores no que toca ao respeito pela Natureza: o ser humano caracterizou os recursos naturais como puramente mecânicos que podem e devem ser explorados incessantemente.
Muitos filósofos que desprezaram as “almas” dos animais também desprezaram as “almas” das mulheres: o posicionamento filosófico de que as mulheres estão mais próximas do animal não-humano do que dos homens, a nível de faculdades, alimentou a sua desumanização e foi um dos múltiplos factores que aprofundou ainda mais o fosso da desigualdade entre os dois sexos. Aristóteles é, provavelmente, o filósofo mais conhecido a esse respeito, ao afirmar que os animais não tinham direitos e que as mulheres, por serem mais fracas do que os homens em todos os aspectos, não deviam participar em nenhuma actividade política e social, ficando a sua existência reduzida às tarefas domésticas. Implicitamente, existe no seu raciocínio uma animalização da mulher, já que o Estagirita também lhes retira quaisquer direitos como fez com os animais.
Espinoza, um dos racionalistas mais importantes do século XVII, também não poupou os animais e as mulheres. Dado o seu egoísmo ético, não é surpreendente que o filósofo holandês tenha afirmado que não nos devemos preocupar com o modo como tratamos os animais e o meio ambiente. Em relação aos animais, escreveu na sua Ética que “A lei contra a matança dos animais é baseada mais na superstição vazia e numa compaixão desprovida de razão”. A razão dita que procuramos a companhia de outros seres humanos porque eles compartilham da nossa natureza: no entanto, como os animais não-humanos têm uma natureza diferente da nossa, o racional passa por tomarmos vantagem sobre eles, usá-los a nosso gosto e tratá-los conforme for mais conveniente para nós (E4p37s1). Para piorar a situação, Espinoza distancia-se de Descartes e concorda que, assim como os humanos, os animais têm “mentes” – todavia, sustenta que os animais e o seu bem-estar são completamente irrelevantes, recusando-lhes direitos.
Esse argumento, de que existe um elemento superior que pode e deve tomar partido do elemento inferior, foi por ele aplicado para justificar a superioridade masculina em relação à feminina, perpetuando, assim, a animalização da mulher já supracitada. No Tratado Político, defendeu que as mulheres devem ser excluídas das actividades políticas por diferirem dos homens na “força da mente” e na “habilidade intelectual”. Esta alegação também é aplicada nas suas deduções psicológicas, sociais e morais, condenando as mulheres ao ostracismo quase total.
Os direitos dos animais ainda são um tema calorosamente debatido que divide a opinião pública. Quem desconsidera a existência dos direitos dos animais não-humanos, no geral, argumenta que estes não têm deveres – o que retira-lhes quaisquer privilégios. Coincidência ou não, quando esta ideia foi filosoficamente enraizada houve uma queda de valores no que toca ao respeito pela Natureza: o ser humano caracterizou os recursos naturais como puramente mecânicos que podem e devem ser explorados incessantemente.
Muitos filósofos que desprezaram as “almas” dos animais também desprezaram as “almas” das mulheres: o posicionamento filosófico de que as mulheres estão mais próximas do animal não-humano do que dos homens, a nível de faculdades, alimentou a sua desumanização e foi um dos múltiplos factores que aprofundou ainda mais o fosso da desigualdade entre os dois sexos. Aristóteles é, provavelmente, o filósofo mais conhecido a esse respeito, ao afirmar que os animais não tinham direitos e que as mulheres, por serem mais fracas do que os homens em todos os aspectos, não deviam participar em nenhuma actividade política e social, ficando a sua existência reduzida às tarefas domésticas. Implicitamente, existe no seu raciocínio uma animalização da mulher, já que o Estagirita também lhes retira quaisquer direitos como fez com os animais.
Espinoza, um dos racionalistas mais importantes do século XVII, também não poupou os animais e as mulheres. Dado o seu egoísmo ético, não é surpreendente que o filósofo holandês tenha afirmado que não nos devemos preocupar com o modo como tratamos os animais e o meio ambiente. Em relação aos animais, escreveu na sua Ética que “A lei contra a matança dos animais é baseada mais na superstição vazia e numa compaixão desprovida de razão”. A razão dita que procuramos a companhia de outros seres humanos porque eles compartilham da nossa natureza: no entanto, como os animais não-humanos têm uma natureza diferente da nossa, o racional passa por tomarmos vantagem sobre eles, usá-los a nosso gosto e tratá-los conforme for mais conveniente para nós (E4p37s1). Para piorar a situação, Espinoza distancia-se de Descartes e concorda que, assim como os humanos, os animais têm “mentes” – todavia, sustenta que os animais e o seu bem-estar são completamente irrelevantes, recusando-lhes direitos.
Esse argumento, de que existe um elemento superior que pode e deve tomar partido do elemento inferior, foi por ele aplicado para justificar a superioridade masculina em relação à feminina, perpetuando, assim, a animalização da mulher já supracitada. No Tratado Político, defendeu que as mulheres devem ser excluídas das actividades políticas por diferirem dos homens na “força da mente” e na “habilidade intelectual”. Esta alegação também é aplicada nas suas deduções psicológicas, sociais e morais, condenando as mulheres ao ostracismo quase total.
Francis Bacon, considerado o pai da Ciência Moderna, afirmou que o conhecimento científico tem como finalidade servir o Homem e dar-lhe poder sobre a Natureza. Essa visão predominante, que se estendeu do século XVI até ao século XIX, estimulou que a anulação dos direitos dos animais e da natureza se propagasse até aos direitos (quase inexistentes) das próprias mulheres: com os avanços científicos e médicos, cujo acesso era exclusivo aos homens, as mulheres começaram a ser proibidas de exercer os seus cargos como parteiras. As mãos de carne foram substituídas pelas mãos de ferro, e qualquer mulher que insistisse em assistir alguém era automaticamente condenada. Este flagelo que estigmatizou as mulheres levou ao nascimento do ecofeminismo, em 1970.
" [O ecofeminismo é] (…) um sistema de valores, um movimento social e uma prática, mas também oferece uma análise política que explora as relações entre o androcentrismo e a destruição ambiental. É uma consciência que começa com a compreensão de que a exploração da natureza está intimamente ligada com a atitude do homem ocidental para com as mulheres e as culturas tribais, ou (…) que há um paralelismo no pensamento dos homens entre o seu direito, por um lado, de explorar a Natureza e por outro o uso que fazem das mulheres."
Janis Birkeland, Ecofeminism: Living Theory and Pratice
Ao reflectir-se sobre esta filosofia no feminino (ou filosofia feminista), é possível interligar a crueldade com animais aos casos de violência doméstica. Pesquisas revelam a ligação entre os dois problemas supratranscritos, alertando para o problema da violência exercida no seio familiar não só com as mulheres, mas também com as crianças e os idosos. De facto, nos Estados Unidos da América, uma lei foi aprovada para que os animais das mulheres sobreviventes de violência doméstica sejam também protegidos, mostrando que a sociedade americana está ciente desta conexão.
A violência doméstica, muitas vezes, é motivada através do abuso e maus-tratos a animais:
Um estudo realizado em 1983, por DeViney, Dickert & Lockwood, confirmou que 88% das famílias em que ocorreu abuso físico contra crianças têm antecedentes de violência com animais;
Um estudo de referência de 1997, da Massachusetts Society for the Prevention of Cruelty to Animals e da Northeastern University, revelou que os abusadores de animais são cinco vezes mais propensos a prejudicar outros seres humanos;
Uma pesquisa de 2005 indicou que o abuso de um animal de companhia é um dos quatro factores de risco mais significativos para alguém se tornar autor de violência doméstica. A mesma pesquisa também referiu que cerca de 56% das mulheres agredidas não fugiram imediatamente do abusador por terem medo pelos seus animais;
10 anos depois, outro estudo corroborou com a pesquisa acima citada. O mesmo aponta que ameaças ou abusos contra um animal de companhia costumam ser usados para controlar mulheres e crianças, forçando-as a permanecer numa situação abusiva por preocupação com a segurança dos seus animais. Em lares com violência doméstica, 50% das crianças relataram que os seus agressores ameaçaram ferir ou matar os seus animais, a fim de manter o controlo sobre as suas vítimas humanas;
Uma pesquisa de 2017 mostrou que 89% das mulheres que tiveram animais de companhia durante uma relação abusiva relataram que os seus animais foram ameaçados, feridos ou mortos pelo seu parceiro abusivo.
Um estudo realizado em 1983, por DeViney, Dickert & Lockwood, confirmou que 88% das famílias em que ocorreu abuso físico contra crianças têm antecedentes de violência com animais;
Um estudo de referência de 1997, da Massachusetts Society for the Prevention of Cruelty to Animals e da Northeastern University, revelou que os abusadores de animais são cinco vezes mais propensos a prejudicar outros seres humanos;
Uma pesquisa de 2005 indicou que o abuso de um animal de companhia é um dos quatro factores de risco mais significativos para alguém se tornar autor de violência doméstica. A mesma pesquisa também referiu que cerca de 56% das mulheres agredidas não fugiram imediatamente do abusador por terem medo pelos seus animais;
10 anos depois, outro estudo corroborou com a pesquisa acima citada. O mesmo aponta que ameaças ou abusos contra um animal de companhia costumam ser usados para controlar mulheres e crianças, forçando-as a permanecer numa situação abusiva por preocupação com a segurança dos seus animais. Em lares com violência doméstica, 50% das crianças relataram que os seus agressores ameaçaram ferir ou matar os seus animais, a fim de manter o controlo sobre as suas vítimas humanas;
Uma pesquisa de 2017 mostrou que 89% das mulheres que tiveram animais de companhia durante uma relação abusiva relataram que os seus animais foram ameaçados, feridos ou mortos pelo seu parceiro abusivo.
Violentar um animal é indicador de um lar caótico e precisamente por essa razão deve ser documentado como um caso de violência doméstica. Por sua vez, é necessário aprender a reconhecer e denunciar todas as formas desta violência.
Crueldade animal e crianças
Crueldade animal e crianças
A transmissão de valores errados, seja de pai para filho ou no próprio ambiente escolar, é outro problema: torturar animais à frente de uma criança ou dar a entender que maltratar animais não é errado influenciará negativamente a conduta da mesma. Uma criança desinformada poderá tornar-se num adulto problemático. Tais valores erradamente incutidos podem ser visualizados facilmente nos dias de hoje, como a defesa da tauromaquia, a utilização de animais em circos, rodeios, garraiadas, agredir e até mesmo matar animais, et cetera.
Um grupo de investigação de uma universidade espanhola realizou um estudo sobre os efeitos que assistir a uma tourada produz em crianças. O estudo efectuou-se com 240 crianças de vários grupos socioeconómicos, repartidos em 120 rapazes e 120 raparigas com idades compreendidas entre os 8 e os 12 anos. Foi-lhes apresentado vídeos tauromáquicos com três narrações distintas: uma apresentava o conteúdo como uma “festa nacional”; outra relatava-a como violenta e a terceira era imparcial e neutra.
60% das crianças referiu a morte do touro como o que menos gostaram das touradas. A nível emocional e cognitivo, 52% sentiu mágoa na visualização do evento: mais de metade considerou errado o que estava a ser feito ao animal e um quarto classificou o evento como um exemplo claro de maltrato animal.
As crianças que visionaram o vídeo com a narrativa a favor do evento obtiveram a pontuação mais elevada na escala de agressão e de ansiedade, em comparação aos que viram o vídeo com a narrativa oposta. O vídeo com a narração violenta desencadeou um impacto emocional mais negativo, concluindo que a mensagem passada produz consequências na agressividade e na ansiedade.
Assistir episódios violentos tem um impacto mais profundo nas crianças do que nos adultos, sendo que as raparigas conseguem discernir melhor a realidade da ficção enquanto os rapazes tendem mais a analisar a possibilidade de acontecer o que estão a ver. Quanto mais as cenas agressivas são justificadas, mais a tolerância das crianças face a comportamentos violentos vai crescendo, aumentando o seu nível de aceitação relativamente a circunstâncias desse género.
Da tolerância para a prática o fio é muito ténue, como as inúmeras situações que vitimaram várias pessoas: matar animais é algo constante nos perfis dos indivíduos que cometeram esses crimes. Os casos são inúmeros, pelo que os encurto para apenas alguns exemplos:
• 21 de Março de 1998, Springfield: Kipland Kinkel, de 15 anos, abriu fogo sobre os alunos que estavam no bar da escola. Atirou 50 vezes, atingiu 25 alunos e acabou por matar dois. Também assassinou os pais no dia anterior. Amigos e familiares relataram que Kinkel tinha uma história de abusos e de tortura com animais, desde decapitar gatos, dissecar esquilos vivos e atear fogo aos gatos enquanto arrastava-os pelas ruas.
• 9 de Abril de 1998, West Dallas: Dois irmãos com 7 e 8 anos de idade foram presos, juntamente com um amigo de 11 anos, pelo sequestro, espancamento e agressão sexual de uma menina de 3 anos. Os dois irmãos já tinham estado envolvidos em violência contra animais.
• 14 de Março de 1999, Jacksonville: O ambiente familiar no qual Cristian Fernandez cresceu era desestruturado. Fruto de uma violação, passou a sua infância a ser espancado pelo padrasto – o que levou-o a descarregar a sua fúria nos animais com apenas seis anos. A partir daí o seu quadro psicológico piorou: com 12 anos assassinou um meio-irmão de dois anos e abusou sexualmente de outro meio-irmão de cinco.
• Setembro e Outubro de 2002, Washington, D.C., Maryland e Virginia: Outrora calmo, Lee Boyd Malvo começou a desenvolver comportamentos preocupantes ao matar gatos à pedrada ou usando-os para praticar tiros. Aos 17 anos assassinou 10 pessoas num espaço de três semanas. Basicamente fazia tiro ao alvo, escondido num automóvel, atirando nas pessoas que passavam na rua.
• 16 de Março e 27 de Maio de 1997, Kobe: Shinichirou Azuma, de 14 anos, ficou conhecido como Sakakibara Seito, nome que utilizou nos bilhetes que enviava para a polícia. Um desses bilhetes foi encontrado na boca de uma das suas vítimas, um estudante de 11 anos chamado Jun Haze. Dois meses antes, Ayaka Yamashita, de 10 anos, fora espancada até à morte.
Sakakibara Seito adorava matar animais: costumava passar por cima de sapos com a sua bicicleta, estrangulava e mutilava gatos, espalhando os pedaços pelo chão, e decapitava pombos. Gatos mortos foram encontrados na cena dos dois assassinatos.
• 1 de Dezembro de 1997, Paducah: Com 14 anos, Michael Carneal assassinou três colegas e feriu outros cinco, num ataque no colégio onde estudava. Um dos feridos ficou tetraplégico. Em criança incendiava gatos ainda vivos, uma prática doentia que se prolongou até à adolescência.
• 1 de Outubro de 1997, Pearl: Luke Woodham, com 16 anos, esfaqueou a sua mãe até à morte. Após o assassinato da sua progenitora, foi para a escola que frequentava e disparou a esmo, matando dois alunos (a sua ex-namorada, Christina Menefee, e uma amiga, Lydia Kaye Dew) e ferindo sete. No seu diário descreveu a forma como matou a sua própria cadela.
ATENÇÃO: Relato com passagens perturbadoras e extremamente violentas.
Abril 14, 1997: No sábado da semana passada cometi o meu primeiro assassinato. A data foi 12 de Abril por volta das 16:30. A vítima era amada. A minha querida cadela Sparkle. Eu e um cúmplice batemos-lhe. (...) No meio desse processo magoamos a pata dela. Nessa semana, na quinta-feira, o meu irmão comentou que ela estava a coxear. Ele sugeriu levar a cadela ao veterinário, mas eu falei com ele e disse-lhe que ela provavelmente pisou nalguma coisa dura e que ela ficaria bem. No sábado o meu irmão traz o veterinário de novo à baila (...). Fiquei com medo de que o veterinário reparasse nas contusões da cadela e que isso me deixasse em sarilhos. Por isso, chamei o meu cúmplice (...). Agredimos a cadela, amarramo-la num saco de plástico, colocamos esse saco noutro saco... Colocamos a pequena cadela numa mochila velha e fomos para uns bosques. (...) Peguei num cacete... e... entreguei-o ao meu cúmplice. Ele bateu no saco com a cadela lá dentro. Nunca esquecerei do uivo que ela deu. Soou quase humano. Rimos e espancamo-la com mais força. (...) Peguei na mochila, que estava encharcada em sangue (...). A mochila rompeu-se e ela colocou a cabeça de fora, totalmente envolvida pelas chamas. Colocamos mais [fogo] sobre ela, e mais, e mais, e mais. Ela tentou fugir. Peguei no cacete e atingi-a no ombro, na espinha e no pescoço. Nunca me esquecerei do som dos seus ossos a quebrar. Nós colocamo-la em chamas novamente, ela abriu a boca e pulverizamos fluido pela sua garganta abaixo. O seu pescoço foi tomado pelo fogo por dentro e por fora. Finalmente, o fogo extinguiu-se e ela fez um som gorgolejante. Silenciei o som com outra pancada. Espanquei-a com tanta força que a cicatriz queimada no ombro dela caiu. Bati-lhe tão brutalmente que arranquei a pele do pescoço dela... Então, enfiamo-la dentro do saco queimado e atiramo-la para um charco. Vimos o saco a afundar-se. Foi verdadeiramente belo.
Jeffrey Dahmer, Edmund Kemper e Richard Chase são três dos inúmeros serial killers com um histórico de crueldade animal.
Serial killers que ficaram famosos por crimes surrealmente hediondos costumavam massacrar e matar animais:
• Jeffrey Dahmer (1960 – 1994), que assassinou e canibalizou 17 homens, apanhava animais mortos e dissecava-os. Alguns relatos referem que ele também os matava, mas outros desmentem essa afirmação. No entanto, é mais do que certo que a morte fascinava-o desde tenra idade, desenhando-se num verdadeiro cemitério de animais enterrados no seu quintal.
Serial killers que ficaram famosos por crimes surrealmente hediondos costumavam massacrar e matar animais:
• Jeffrey Dahmer (1960 – 1994), que assassinou e canibalizou 17 homens, apanhava animais mortos e dissecava-os. Alguns relatos referem que ele também os matava, mas outros desmentem essa afirmação. No entanto, é mais do que certo que a morte fascinava-o desde tenra idade, desenhando-se num verdadeiro cemitério de animais enterrados no seu quintal.
Os seus crimes ganharam notoriedade quando o inventário realizado no seu apartamento foi levado a público: desde fotografias das vítimas, já mortas, em poses sexuais às cabeças encontradas no frigorífico, a polícia também contabilizou cadáveres em vasilhas cheias de ácido e um altar repleto de velas e de crânios dentro do armário.
O seu pai, Lionel Dahmer, admitiu que errou ao não ver qualquer anormalidade nos gostos do seu filho quando este era criança e levava animais mortos para casa. No seu livro A Father's Story, o angustiado pai escreveu: “Uma vez senti um cheiro horrível vindo do porão; havia uma pilha de ossos de vários animais. Jeff parecia animado com o som que os ossos faziam na sua mãozinha. Hoje não consigo ver mais isso como uma coisa de crianças.”
• Albert DeSalvo (1931 – 1973), conhecido como Estrangulador de Boston e que matou 13 mulheres, amarrava cães e gatos e usava-os para praticar tiro ao alvo com arco e flecha na sua infância. Quando se cansava de trespassar animais, apanhava outros e colocava-os num caixote com uma divisória entre eles. DeSalvo deixava-os sem comer durante dias a fio e retirava a divisória para ver, na maioria das vezes, o cão, desvairado pela fome, a comer o gato vivo. Foi assassinado na prisão aos 42 anos.
• Marcel Felix Petiot (1897 – 1946) divertia-se a capturar pássaros e a espetar-lhes agulhas nos olhos quando era criança. O mesmo fazia com gatos e outros animais que apanhava. Em 1940 aproveitou o caos da Segunda Guerra Mundial para enganar vários judeus, garantindo-lhes que os esconderia num local seguro. A ânsia pela fuga ao Holocausto foi a condenação dos que nele confiaram; estima-se que o médico francês assassinou 60 pessoas.
• Edmund Kemper (1948) foi condenado à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional por ter cometido 10 assassinatos, incluindo o da própria mãe. Também matou os avós. O inspirador do personagem Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes torturava e matava animais enquanto não estava a simular relações sexuais com as bonecas da sua irmã.
O seu pai, Lionel Dahmer, admitiu que errou ao não ver qualquer anormalidade nos gostos do seu filho quando este era criança e levava animais mortos para casa. No seu livro A Father's Story, o angustiado pai escreveu: “Uma vez senti um cheiro horrível vindo do porão; havia uma pilha de ossos de vários animais. Jeff parecia animado com o som que os ossos faziam na sua mãozinha. Hoje não consigo ver mais isso como uma coisa de crianças.”
• Albert DeSalvo (1931 – 1973), conhecido como Estrangulador de Boston e que matou 13 mulheres, amarrava cães e gatos e usava-os para praticar tiro ao alvo com arco e flecha na sua infância. Quando se cansava de trespassar animais, apanhava outros e colocava-os num caixote com uma divisória entre eles. DeSalvo deixava-os sem comer durante dias a fio e retirava a divisória para ver, na maioria das vezes, o cão, desvairado pela fome, a comer o gato vivo. Foi assassinado na prisão aos 42 anos.
• Marcel Felix Petiot (1897 – 1946) divertia-se a capturar pássaros e a espetar-lhes agulhas nos olhos quando era criança. O mesmo fazia com gatos e outros animais que apanhava. Em 1940 aproveitou o caos da Segunda Guerra Mundial para enganar vários judeus, garantindo-lhes que os esconderia num local seguro. A ânsia pela fuga ao Holocausto foi a condenação dos que nele confiaram; estima-se que o médico francês assassinou 60 pessoas.
• Edmund Kemper (1948) foi condenado à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional por ter cometido 10 assassinatos, incluindo o da própria mãe. Também matou os avós. O inspirador do personagem Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes torturava e matava animais enquanto não estava a simular relações sexuais com as bonecas da sua irmã.
• Richard Chase (1950 – 1980) matou seis pessoas no período de um mês em Sacramento na Califórnia. A alcunha “O Vampiro de Sacramento” deveu-se por este beber o sangue das vítimas. Também comia-as parcialmente.
Aos 10 anos já apresentava sinais claros de Síndrome de Macdonald(1). Nas horas de solidão capturava, desmembrava e matava animais, os quais ele devorava crus ou misturava-os com Coca-Cola num liquidificador: depois, bebia a mistura como se fosse um batido.
• Keith Hunter Jesperson (1955) costumava torturar gatos no seu quintal na presença dos seus três filhos pequenos. Em criança apanhava pássaros, cães e gatos e espancava-os com barras de ferro até matá-los. Tudo começou aos seis anos, ao esmagar cabeças de esquilos e, segundo o próprio, aos 20 já tinha assassinado tudo o que conhecia de animal. A sua filha Melissa, no seu livro Shattered Silence: The Untold Story of a Serial Killer's Daughter, partilha o seguinte: “O meu pai costumava matar gatos que andavam pelas redondezas. Uma vez, vi-o partir o rabo de vários gatos e pendurá-los pela cauda, com um nó, no varal do quintal. Saí a correr e contei para a minha mãe: quando voltamos os gatinhos estavam mortos no chão e o meu pai a rir-se.”
Jesperson, o Assassino do Rosto Feliz, admitiu que matar animais influenciou-o a tornar-se num dos serial killers canadianos mais abjectos: “Eu era o Arnold Schwarzenegger: era como se estivesse a brincar às guerras. Quando olhava para os cães eles morriam de medo; agachavam e faziam chichi. Ficavam tão assustados por me ver que começavam a tremer. Chega-se ao ponto em que matar não é nada demais. É a mesma sensação [matar animais e humanos]. Tu sentes a pressão na garganta deles [animais], tentando respirar. Tu tiras a vida desses animais e não há muita diferença, já que eles lutam pelas suas vidas tanto quanto um ser humano.”
A negligência parental é perigosa nestes casos. Hunter já mostrava sinais evidentes de psicopatia, que foram inflamados com o gáudio mórbido do seu pai: “Uma vez, o meu pai viu-me a atirar um gato contra o chão e a estrangulá-lo. Ele ficou com orgulho do que fiz e gabava-se aos vizinhos como eu tinha me livrado dos cães e dos gatos das redondezas. Isso levou a que continuasse a matar e logo comecei a pensar como seria matar um ser humano.”
Apesar do número confirmado ser oito, Jesperson confessou mais de 160 assassinatos, descrevendo as suas vítimas, todas do sexo feminino, como “lixo”.
A psicopatia infantil também é um factor a ser considerado quando uma criança mostra indiferença perante o sofrimento dos outros, sejam eles animais ou humanos. Apesar de ser um dos assuntos mais polémicos e debatidos nas áreas da psicologia, pedopsiquatria e criminologia, e que continua a não reunir consenso, há um ponto que é unanimemente concordado como influente para o seu desenvolvimento: o ambiente social e familiar e de como este é fundamental para compreender se uma criança está a ter comportamentos desligados de qualquer empatia, sendo os maus-tratos a animais um dos sintomas.
Existem muitos mais casos de criminosos sexuais, assassinos em série e homicidas que possuem um histórico de crueldade com animais na infância que não foram aqui registados. São casos que revelam a importância de ficar-se atento a sinais de violência excessiva, mesmo que o indivíduo ainda seja uma criança. Finalmente, e apesar de várias discordâncias entre os especialistas em relação ao assunto da psicopatia infantil (como foi referido acima), é assente que o abuso físico e psicológico de animais é um alerta. É significativo frisar que um incidente isolado não é indício de comportamento psicopático: todavia, se esse comportamento persistir, principalmente se a criança já foi alertada, é imperioso levar essas atitudes a sério. Os pais, amigos, vizinhos, professores e familiares devem denunciar indícios de comportamento agressivo. Os outros, sejam humanos ou não-humanos, merecem ser protegidos e a criança merece ser também protegida de si própria, visto que atitudes psicopáticas são bastante auto-destrutivas.
Crueldade animal e excitação sexual
Psicólogos e sociólogos de todos os pontos do mundo denunciam constantemente os perigos da pornografia, tanto por esta ser altamente viciante como por levar o consumidor a confundir violência sexual com relações sexuais legítimas e reais. Infelizmente, o conteúdo pornográfico é um dos mais procurados e visualizados, o qual inclui categorias que envolvem animais. A zoofilia e o crush, apesar de não serem aceites a nível geral, são muito fáceis de ser encontrados tanto na surface web como na deep web.
Os denominados crush film representam comportamentos zoosadistas, incentivando quem vê a praticá-los. Apesar da ilegalidade destes vídeos apresentar-se em grande parte das regiões à escala mundial, o fácil acesso gera um entrave no combate contra os mesmos. Este género de pornografia extrema consiste no esmagamento de animais vivos: geralmente, são mulheres que pisam cães, gatos, coelhos e ratinhos com sapatos de salto alto, muitas vezes perfurando os olhos dos animais enquanto estes sufocam no aperto grotesco da morte.
Ficar sexualmente excitado com este tipo de crueldade denuncia um provável perfil psicopático. Mais concretamente, maltratar animais ou gostar de ver animais a ser torturados, bem como outros sinais (ausência de remorso, apatia, agressividade exagerada, piromania, etc.) reflecte um caso potencial de sociopatia ou de psicopatia.
Peter Kurten, apresentado na fotografia, foi um dos muitos serial killers que começaram a apreciar o gosto pela tortura e pela morte a partir de práticas sádicas com animais: para além de violentar sexualmente as irmãs, com apenas seis anos de idade atingia o clímax enquanto violava e esfaqueava ovelhas. Com este exemplo não pretendo referir, de forma alguma, que todo o indivíduo zoosadista, ou que aprecia práticas zoosadistas, é um assassino: todavia, é preciso salientar que nem todos os psicopatas cometem crimes ou matam pessoas, pelo que é imprescindível permanecer atento a determinados comportamentos ou fetiches violentos.
Quando matar animais é um trabalho
• Keith Hunter Jesperson (1955) costumava torturar gatos no seu quintal na presença dos seus três filhos pequenos. Em criança apanhava pássaros, cães e gatos e espancava-os com barras de ferro até matá-los. Tudo começou aos seis anos, ao esmagar cabeças de esquilos e, segundo o próprio, aos 20 já tinha assassinado tudo o que conhecia de animal. A sua filha Melissa, no seu livro Shattered Silence: The Untold Story of a Serial Killer's Daughter, partilha o seguinte: “O meu pai costumava matar gatos que andavam pelas redondezas. Uma vez, vi-o partir o rabo de vários gatos e pendurá-los pela cauda, com um nó, no varal do quintal. Saí a correr e contei para a minha mãe: quando voltamos os gatinhos estavam mortos no chão e o meu pai a rir-se.”
Jesperson, o Assassino do Rosto Feliz, admitiu que matar animais influenciou-o a tornar-se num dos serial killers canadianos mais abjectos: “Eu era o Arnold Schwarzenegger: era como se estivesse a brincar às guerras. Quando olhava para os cães eles morriam de medo; agachavam e faziam chichi. Ficavam tão assustados por me ver que começavam a tremer. Chega-se ao ponto em que matar não é nada demais. É a mesma sensação [matar animais e humanos]. Tu sentes a pressão na garganta deles [animais], tentando respirar. Tu tiras a vida desses animais e não há muita diferença, já que eles lutam pelas suas vidas tanto quanto um ser humano.”
A negligência parental é perigosa nestes casos. Hunter já mostrava sinais evidentes de psicopatia, que foram inflamados com o gáudio mórbido do seu pai: “Uma vez, o meu pai viu-me a atirar um gato contra o chão e a estrangulá-lo. Ele ficou com orgulho do que fiz e gabava-se aos vizinhos como eu tinha me livrado dos cães e dos gatos das redondezas. Isso levou a que continuasse a matar e logo comecei a pensar como seria matar um ser humano.”
Apesar do número confirmado ser oito, Jesperson confessou mais de 160 assassinatos, descrevendo as suas vítimas, todas do sexo feminino, como “lixo”.
A psicopatia infantil também é um factor a ser considerado quando uma criança mostra indiferença perante o sofrimento dos outros, sejam eles animais ou humanos. Apesar de ser um dos assuntos mais polémicos e debatidos nas áreas da psicologia, pedopsiquatria e criminologia, e que continua a não reunir consenso, há um ponto que é unanimemente concordado como influente para o seu desenvolvimento: o ambiente social e familiar e de como este é fundamental para compreender se uma criança está a ter comportamentos desligados de qualquer empatia, sendo os maus-tratos a animais um dos sintomas.
Existem muitos mais casos de criminosos sexuais, assassinos em série e homicidas que possuem um histórico de crueldade com animais na infância que não foram aqui registados. São casos que revelam a importância de ficar-se atento a sinais de violência excessiva, mesmo que o indivíduo ainda seja uma criança. Finalmente, e apesar de várias discordâncias entre os especialistas em relação ao assunto da psicopatia infantil (como foi referido acima), é assente que o abuso físico e psicológico de animais é um alerta. É significativo frisar que um incidente isolado não é indício de comportamento psicopático: todavia, se esse comportamento persistir, principalmente se a criança já foi alertada, é imperioso levar essas atitudes a sério. Os pais, amigos, vizinhos, professores e familiares devem denunciar indícios de comportamento agressivo. Os outros, sejam humanos ou não-humanos, merecem ser protegidos e a criança merece ser também protegida de si própria, visto que atitudes psicopáticas são bastante auto-destrutivas.
Crueldade animal e excitação sexual
Psicólogos e sociólogos de todos os pontos do mundo denunciam constantemente os perigos da pornografia, tanto por esta ser altamente viciante como por levar o consumidor a confundir violência sexual com relações sexuais legítimas e reais. Infelizmente, o conteúdo pornográfico é um dos mais procurados e visualizados, o qual inclui categorias que envolvem animais. A zoofilia e o crush, apesar de não serem aceites a nível geral, são muito fáceis de ser encontrados tanto na surface web como na deep web.
Os denominados crush film representam comportamentos zoosadistas, incentivando quem vê a praticá-los. Apesar da ilegalidade destes vídeos apresentar-se em grande parte das regiões à escala mundial, o fácil acesso gera um entrave no combate contra os mesmos. Este género de pornografia extrema consiste no esmagamento de animais vivos: geralmente, são mulheres que pisam cães, gatos, coelhos e ratinhos com sapatos de salto alto, muitas vezes perfurando os olhos dos animais enquanto estes sufocam no aperto grotesco da morte.
Ficar sexualmente excitado com este tipo de crueldade denuncia um provável perfil psicopático. Mais concretamente, maltratar animais ou gostar de ver animais a ser torturados, bem como outros sinais (ausência de remorso, apatia, agressividade exagerada, piromania, etc.) reflecte um caso potencial de sociopatia ou de psicopatia.
Quando matar animais é um trabalho
Por fim, o hábito de matar animais já demonstrou a evolução negativa no comportamento de indivíduos cujas profissões estão ligadas precisamente ao abate. Várias investigações feitas pela PETA mostraram atitudes, no mínimo, perturbadoras: trabalhadores a violentarem sexualmente animais, inserindo os dedos na cloaca de uma perua ou colocando instrumentos na vagina de uma porca. Todos esses abusos são acompanhados com outras agressões físicas e comentários irados.
Os criadores de Lucent também registaram casos extremos de maus-tratos contra os animais explorados para consumo: uma parte do documentário revela o dia-a-dia dos porcos australianos, com pontapés, socos e pauladas. Os leitõezinhos mais fracos, ou que estão doentes, são atirados várias vezes contra o chão até morrerem. No corredor é possível ver os corpos sem vida dos bácoros, que são pontapeados quando os funcionários passam por eles.
Melanie Joy explica que as condições de trabalho exploradoras, perigosas, insalubres e violentas, típicas dos matadouros, levam à inevitável dessensibilização dos funcionários. Esse processo é por ela definido como rotinização, que é a execução rotineira de uma acção até se ficar entorpecido em relação a ela. Os trabalhadores, saturados com o ambiente stressante e por lidarem com seres evidentemente sencientes, acabam por acumular mal-estar psicológico. O resultado é o desencadeamento da agressividade extrema.
A violência física, psicológica e sexual ocorrem em várias indústrias de criação intensiva, pelo que não deve ser levada como um mero caso isolado. É claro como água o poder que a violência tem num ambiente igualmente violento: é capaz de manipular a mente humana, tornando a pessoa cada vez mais hostil e apática com o sofrimento do outro. Abater animais acaba por não bastar; a necessidade de maltratá-los impera. É o que sucede dentro das quatro paredes de cimento de imensas pecuárias.
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Os criadores de Lucent também registaram casos extremos de maus-tratos contra os animais explorados para consumo: uma parte do documentário revela o dia-a-dia dos porcos australianos, com pontapés, socos e pauladas. Os leitõezinhos mais fracos, ou que estão doentes, são atirados várias vezes contra o chão até morrerem. No corredor é possível ver os corpos sem vida dos bácoros, que são pontapeados quando os funcionários passam por eles.
Melanie Joy explica que as condições de trabalho exploradoras, perigosas, insalubres e violentas, típicas dos matadouros, levam à inevitável dessensibilização dos funcionários. Esse processo é por ela definido como rotinização, que é a execução rotineira de uma acção até se ficar entorpecido em relação a ela. Os trabalhadores, saturados com o ambiente stressante e por lidarem com seres evidentemente sencientes, acabam por acumular mal-estar psicológico. O resultado é o desencadeamento da agressividade extrema.
A violência física, psicológica e sexual ocorrem em várias indústrias de criação intensiva, pelo que não deve ser levada como um mero caso isolado. É claro como água o poder que a violência tem num ambiente igualmente violento: é capaz de manipular a mente humana, tornando a pessoa cada vez mais hostil e apática com o sofrimento do outro. Abater animais acaba por não bastar; a necessidade de maltratá-los impera. É o que sucede dentro das quatro paredes de cimento de imensas pecuárias.
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Graças à aprovação da Lei n.º 69/2014, as queixas relativas ao abandono e ao mau trato animal podem ser encaminhadas para o Ministério Público. Mesmo assim, se preferirem dirigir-se a outras entidades, não hesitem em contactar a SEPNA (Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente) e a PSP local. Também podem pedir ajuda à Sociedade Protectora dos Animais ou à ANIMAL caso tenham alguma dúvida sobre o que fazer.
Não aceitem um NÃO da parte das autoridades. A legislação vigente responsabiliza as autoridades acima referidas pela fiscalização e cumprimento das normas estabelecidas. Tenham também em conta que as Associações de protecção aos animais não são autoridades.
Não aceitem um NÃO da parte das autoridades. A legislação vigente responsabiliza as autoridades acima referidas pela fiscalização e cumprimento das normas estabelecidas. Tenham também em conta que as Associações de protecção aos animais não são autoridades.
SEPNA: 213 217 000
SPA: 213 423 851 / 214 063 940 / 218 482 532 / 213 151 989
ANIMAL: 96 132 08 18
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Notas:
(1) A Síndrome de MacDonald é uma tríade comportamental precursora da sociopatia. Os seus sinais podem ser descodificados a partir da infância: enurese (incapacidade de controlar a bexiga), piromania e zoosadismo.
Recursos utilizados:
Pasdemasque
O Aprendiz Verde
Lilian Rockenbach
As Mulheres na Filosofia, Maria Luísa Ribeiro Ferreira
Edições Colibri, Forum de Ideias
Porque Gostamos de Cães, Comemos Porcos e Vestimos Vacas, Melanie Joy
Bertrand Editora
Porque Gostamos de Cães, Comemos Porcos e Vestimos Vacas, Melanie Joy
Bertrand Editora
Animal Cruelty and Domestic Violence – Animal Legal Defense Fund
Animal Maltreatment as a Risk Marker of More Frequent and Severe Forms of Intimate Partner Violence, Betty Jo Barrett, Amy Fitzgerald, Rochelle Stevenson, Chi Ho Cheung. 2017
Children’s Experiences of Companion Animal Maltreatment in Households Characterized by Intimate Partner Violence, Shelby Elaine McDonald, Elizabeth A. Collins, Nicole Nicotera, Tina O. Hageman, Frank R. Ascione, James Herbert Williams, Sandra A. Graham-Bermann. 2015
Effects of viewing videos of bullfights on Spanish children, J.L. Graña J.A. Cruzado J.M. Andreu M.J. Muñoz‐Rivas M.E. Peña. 2004
Pets and Violence – MSPCA-Angell
“Algumas vezes eles são cozidos vivos”: Por dentro da indústria abusiva do ‘animal crush’
Risk factors for intimate partner violence and associated injury among urban women, Walton-Moss, Manganello J, Frye V, Campbell JC. 2005
The Care of Pets Within Child Abusing Families, Elizabeth DeViney, Jeffery Dickert, Randall Lockwood. 1983
Tracking Animal Cruelty – FBI Collecting Data on Crimes Against Animals
Violência contra animais e violência doméstica: qual a ligação existente?, Rita de Cassia Garcia
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