15/10/2025
Rascunhos Antiespecistas | Quando a linguagem se torna cruel: a proibição do “burguer vegetal”

No dia 8 de Outubro, os eurodeputados discutiram uma proposta que, entre outros aspectos, requeria a proibição de termos como burger, salsicha e escalope para produtos de origem vegetal. Por outras palavras, tais produtos não podem ser mais denominados e rotulados com tais termos. A proposição é a seguinte:
Emenda 113Proposta de regulamentoArtigo 1.º – n.º 1 – ponto 8 f) (novo)Regulamento (UE) n.º 1308/2013Anexo VIII – parte II A (nova)No Anexo VIII, é acrescentada a seguinte parte:Parte II ACarne, produtos de carne e preparações de carnePara efeitos da presente parte, entende-se por carne as partes comestíveis dos animais referidos nos pontos 1.2 a 1.8 do Anexo I do Regulamento (CE) n.º 853/2004, incluindo o sangue. Os termos e denominações relacionados com carne, abrangidos pelo artigo 17.º do Regulamento (UE) n.º 1169/2011 e actualmente utilizados para carne e cortes de carne, devem ser reservados exclusivamente para as partes comestíveis desses animais. (...)As denominações abrangidas pelo artigo 17.º do Regulamento (UE) n.º 1169/2011 que são actualmente utilizadas para produtos e preparações de carne devem ser reservadas exclusivamente a produtos que contenham carne. Essas denominações incluem, por exemplo: bife, escalope, salsicha, hambúrguer (...) Os produtos e cortes de aves definidos no Regulamento (UE) n.º 543/2008, que estabelece as regras de execução do Regulamento (UE) n.º 1234/2007 do Conselho no que respeita às normas de comercialização da carne de aves de capoeira, devem ser reservados exclusivamente às partes comestíveis dos animais e aos produtos que contenham carne de aves. As denominações acima mencionadas não devem ser utilizadas para qualquer outro produto que não os referidos e excluem os produtos de cultura celular.
O fundamento apresentado foi que a utilização das palavras supracitadas para definir preparações à base de plantas não é transparente e pode induzir o consumidor a erro. Na verdade, a intenção é clara: defender os interesses da pecuária, o que implica defender uma visão que privilegia a carne de animais. A votação — de um parlamento agora mais distribuído à direita (Alô, veganos que separam veganismo de política? Este texto também é para vocês) — foi favorável à proposta. É particularmente estranho a União Europeia proteger uma das indústrias comprovadamente mais poluidoras, ao ponto de aprovar esta mesquinhez, e ao mesmo tempo bater o peito e garantir que está a trabalhar muito em prol do ambiente e da sustentabilidade. Pessoalmente não compreendo como podemos correlacionar ambas de forma coerente, visto não ser possível haver justiça climática com exploração animal.
Enquanto à superfície esta proibição aparenta ser um mero disparate e um gasto de recursos políticos (e é-o também, atenção), o seu âmago esconde alguns alicerces da exploração animal: a perpetuação e normalização do especismo simbólico e do especismo psicológico.
Enquanto à superfície esta proibição aparenta ser um mero disparate e um gasto de recursos políticos (e é-o também, atenção), o seu âmago esconde alguns alicerces da exploração animal: a perpetuação e normalização do especismo simbólico e do especismo psicológico.
Assim como outras formas de opressão, o especismo — que é a discriminação com base na espécie — é repartido em várias categorias. De facto, categorizar é uma das bases da discriminação, visto a mesma necessitar de uma visão dualista, algo que é explicado por Carol J. Adams: em The Pornography of Meat, Adams refere que existe a categoria “A”, culturalmente classificada como superior, racional e a que mantém a ordem – e, por isso, tem o privilégio de explorar, a seu bel-prazer, a categoria “Não A”, que é culturalmente entendida como inferior, emocional e instável, pelo que, além de precisar de ser subjugada, precisa de aceitar essa subjugação. Veja-se que Adams define a categoria considerada inferior como “Não A” em vez de “B”: tal deve-se por, no raciocínio hierárquico construído e imposto por “A, “Não A” ser totalmente despojada das qualidades e capacidades que qualificam o primeiro como sumamente superior. “Não A”, além de inferior, não tem autonomia e é vista como uma extensão imperfeita, dependente de “A”, que necessita de ser vergada e submeter-se às vontades de “A”. No caso da discriminação especista, “A” são os animais humanos e “Não A” são os animais não-humanos. E, para manter este fosso segregador, diversos estilos de discriminação são congeminados.
O especismo simbólico refere-se à forma como a linguagem, a cultura e os símbolos reforçam a ideia da superioridade humana em relação aos animais. Já o especismo psicológico actua na mente colectiva ao reforçar o hábito de associar “comida de verdade” à carne animal, enquanto despreza o vegetal e o reduz a “imitação”, “substituto” e “artificial”. Os animais tornam-se, assim, imperceptíveis enquanto seres sencientes e reduzidos a mercadoria.
Fica, assim, evidente que esta proibição não é só uma questão de semântica: é uma tentativa de preservar a percepção cultural que temos em relação à carne e aos próprios animais. É mais uma das milhares de rodas que movimentam a engrenagem do especismo, sendo que esta roda, recentemente inserida pela União Europeia, recorre à linguagem veladamente para fortalecer, ainda mais, o conceito de que certos animais são alimento – e que os seus pedaços formam o substancial e inevitável protagonista do nosso prato. As suas contrapartes vegetais são, assim, ridicularizadas e reduzidas aos rótulos acima mencionados.
Esta interdição também mostra aquilo que o especismo é: cruel, hegemónico e dissimulado. Cruel porque, juntamente com o capitalismo, depende do sofrimento e da matança de animais para prosperar. Não foi por acaso que, sem surpresas, o sector pecuário regozijou-se com esta decisão de proibir os termos para opções vegetais;
Hegemónico porque não admite que a divergência ganhe força, por mais que essa força seja uma humilde gota num imenso oceano de vilanias – e é aqui que entra a pressão da indústria da carne, incluindo tornar termos gerais exclusivamente seus;
Dissimulado porque, ao mesmo tempo que argumenta pela proibição desses termos “para não enganar os consumidores”, despersonaliza os animais de tal modo que os respectivos retalhos em nada se assemelham a eles. Um hambúrguer não se parece com uma vaca. Uma salsicha não se parece com um porco. Porque se esforçam tanto para tornar os animais referentes ausentes dos seus próprios corpos? Porque é que os animais são obliterados ao ponto dos seus pedaços nos fazer esquecer que antes, em vida, existiu um indivíduo completo, complexo e consciente?
Um pormenor presente na emenda e que achei interessante foi a definição oficial apresentada para “carne”: partes comestíveis de animais. Foi a partir dessa premissa que o argumento de exclusividade das palavras hambúrguer, salsicha, etc., foi desenvolvido, visto que carne, de acordo com a dita, é unicamente de animais – sendo assim, obviamente que faz sentido as definições supratranscritas só poderem ser aplicadas àquilo que for de origem animal.
Um pormenor presente na emenda e que achei interessante foi a definição oficial apresentada para “carne”: partes comestíveis de animais. Foi a partir dessa premissa que o argumento de exclusividade das palavras hambúrguer, salsicha, etc., foi desenvolvido, visto que carne, de acordo com a dita, é unicamente de animais – sendo assim, obviamente que faz sentido as definições supratranscritas só poderem ser aplicadas àquilo que for de origem animal.
Achei interessante porque, etimologicamente, a palavra “carne” deriva do latim caro, carnis, que significa “substância do corpo”. No entanto, não era especificamente sobre substância animal e referia-se a qualquer parte mole do corpo independentemente da sua origem. Carne de coco, carne de caju e carne de melancia são alguns exemplos: tais expressões existiam (e ainda existem!) e eram consideradas correctas e normais. Em suma, originalmente, carne designava a parte comestível e macia de algo. Mais tarde, com o aumento do consumo de animais e o domínio da pecuária, o termo foi apropriado cultural e economicamente para significar, exclusivamente, o tecido muscular de animais. Como podemos ver, rebaptizar e expropriar palavras não é uma novidade da engrenagem especista.
Quanto aos termos que fomentaram todo este debate, são designações para formatos de alimentos e como estes foram confeccionados: “hambúrguer” é um preparado arredondado, feito com um ou mais ingredientes principais, que foram picados, temperados e aglomerados; “salsicha” é um enchido que, apesar de comummente ser de carne de animais, também pode ser feito com vegetais: há registos culinários medievais de salsicha de arroz e lentilhas, por exemplo.
Questões etimológicas e históricas à parte, outro factor que esta proibição criou é que um hambúrguer, uma salsicha e um escalope, ao só poderem ser designados como tal se forem de origem animal, passam também a carregar, exclusivamente, o que vem juntamente com a carne mas que nos é invisível: a dor, a tortura e a morte. Usemos as armas do especismo contra ele próprio: denunciemos o real significado do que está por detrás daquilo que se consome.
No fundo, esta proibição revela o medo de um sistema que teme qualquer questionamento ou crítica ao monopólio da carne – e, paradoxalmente, ao mostrar esse medo, oferece-nos a chance de ver as coisas com mais clareza, como o mundo vegetal não necessitar das designações que o status quo, no alto do seu preconceito, lhes nega constantemente. Concordo que devamos resistir e exigir o direito de usar essas palavras — afinal, não é por ser isento de origem animal que deve ser silenciado —, mas, ao também revelarmos que não precisamos delas para legitimar o que é vegetal, estamos a desmantelar esta lógica de subordinação, que ridiculariza o vegetal ao acusá-lo de copiar o animal através desses termos para se viabilizar. Estamos, de alguma forma, a libertar a alimentação à base de plantas da dependência do discurso dominante. Como escreveu Ruan Félix, um cogumelo não precisa de ser chamado de bife ou de bacon para brilhar – só precisa de ser chamado pelo que é: um cogumelo. Um simples, carnudo (ups, espero que a UE não me excomungue) e apetitoso cogumelo.
No fundo, esta proibição revela o medo de um sistema que teme qualquer questionamento ou crítica ao monopólio da carne – e, paradoxalmente, ao mostrar esse medo, oferece-nos a chance de ver as coisas com mais clareza, como o mundo vegetal não necessitar das designações que o status quo, no alto do seu preconceito, lhes nega constantemente. Concordo que devamos resistir e exigir o direito de usar essas palavras — afinal, não é por ser isento de origem animal que deve ser silenciado —, mas, ao também revelarmos que não precisamos delas para legitimar o que é vegetal, estamos a desmantelar esta lógica de subordinação, que ridiculariza o vegetal ao acusá-lo de copiar o animal através desses termos para se viabilizar. Estamos, de alguma forma, a libertar a alimentação à base de plantas da dependência do discurso dominante. Como escreveu Ruan Félix, um cogumelo não precisa de ser chamado de bife ou de bacon para brilhar – só precisa de ser chamado pelo que é: um cogumelo. Um simples, carnudo (ups, espero que a UE não me excomungue) e apetitoso cogumelo.
No fim, o que está em jogo não são somente palavras, até porque a verdadeira transformação não está apenas em nomes ou rótulos: está em reconhecer a manipulação e a má-fé por detrás deste jogo, de escancarar as rodas desta engrenagem e, numa contracorrente desobediente, escolher o que é vivo, sem violência, sem domínio e sem medo. Está em semear e cultivar a nossa própria lógica. Uma que floresça sem sangue e sem morte. E com essa lógica seguimos, seja a informar, a criar ou a cozinhar. Um prato vegetal de cada vez.
Imagem: Roman Odintsov
Imagem: Roman Odintsov
publicado em

J'accuse... moi 😬 No que toca a panquecas sempre fui a maior nabiça hortaliça: queimava-as, deixava-as cruas, deixava-as pesadas, colavam na frigideira, na crepeira, em todo o lado. Sou péssima a seguir regras de culinária mas, neste caso, cumpria à risca com os ingredientes, as medidas e o modo de preparação, tudo muito direitinho, para no fim a panqueca sair toda torta 🌚 Não creio que haja alguém igual ou pior do que eu em preparar panquecas, pelo que esta receita vai ser, sem sombra de dúvida, infalível para qualquer pessoa que experimentar fazê-la. Seja um ás ou um noob, o sucesso é garantido!
Só precisam de:
1 cup de farinha de trigo extra fina
1 cup de leite de soja (utilizo o da Alpro com sabor a baunilha para adoçar automaticamente)
1 colher de sopa de vinagre de maçã
1 colher de chá de fermento químico
½ colher de chá de bicarbonato de sódio
1⁄4 colher de chá de sal
½ colher de sopa de óleo vegetal
Segredo número um: talhar o leite de soja, para as panquecas ficarem mais macias e menos densas. Se quiserem ser chiques podem chamar a esse processo de 'confeccionar o buttermilk vegetal': integrem o vinagre no leite e deixem repousar cinco minutos.
Enquanto isso, misturem, numa tigela à parte, os ingredientes secos — farinha, fermento, bicarbonato e sal.
Combinem o leite talhado e o óleo aos ingredientes secos e misturem delicadamente só até incorporar. Não batam demais e não se preocupem se a massa ficar com alguns grumos.
Segredo número dois: permitam que a massa descanse cinco a dez minutos antes de a cozinharem: isso resulta em panquecas mais altas e fofas.
Na crepeira, ou numa frigideira antiaderente, em lume médio-baixo e previamente aquecida, coloquem 1⁄4 cup por panqueca. Cozinhem até surgir bolhas na superfície, virem e deixem cozinhar mais dois ou três minutos.
E pronto, panquecas fofas garantidas — mesmo para quem, como eu, sempre se baralhou com elas ♡
Extras que funcionam lindamente na massa:
Framboesas frescas
Morangos picados
Mirtilos
Raspas de limão
Pepitas de chocolate (as da Vahiné são isentas de substâncias animais)
Simples, com frutas, manteiga de amendoim, xarope de agave, chocolate... dêem asas à imaginação (e à gulodice, muahaha). Sirvam preferencialmente quentinhas, mas frias também ficam boas ♡
publicado em

Ultimamente a cozinha tem sido um espaço terapêutico: a modorra e a desmotivação têm-me fustigado a mente impiedosamente, pelo que preferi dar uma pausa no conteúdo mais intelectual e dedicar-me um pouco a ter a barriga em beira de fogão. O blogue não vai virar site de receitas mas, como referi aqui, compreendi que até é pertinente mostrar víveres simples, acessíveis e plenos de sabor. A luta também se faz no prato, pelo que a comida é um activismo – e se for antiespecista, melhor. É o que se deseja.
Estava a matutar numa ideia para o almoço da criança que, além de versátil, fosse minimalista, saborosa e saudável. De almôndegas passei para falafel e do falafel para umas bolinhas de grão-de-bico feitas no forno, não fritas. São insanamente deliciosas e insanamente fáceis de se fazer.
Mais uma vez é uma receita de olhómetro, mas nada temam: entrem no maravilhoso mundo da culinária intuitiva com estas bolinhas de grão espectaculares.
Só precisam de:
Pouco mais de 1 cup (cerca de 170-180 g) de grão-de-bico cozido
1 cenoura pequena ralada (nas bolinhas da fotografia esqueci-me de adicionar a cenoura 🌚 também ficam boas mas a cenoura dá uma textura e cor mais interessantes)
Azeite (fiz um pequeno splash, mas deve ser sensivelmente 1 colher de sopa cheia)
Molho de soja (outro splash, provavelmente 2 colheres de sopa) ou sal
Ervas secas a gosto (numas coloquei orégãos, nestas pus limão e tomilho. Usem as que quiserem, experimentem, arrisquem)
Pré-aqueçam o forno a 180°C.
Numa taça, esmaguem bem o grão-de-bico com um garfo. Adicionem a aveia instantânea e envolvam bem.
Juntem a cenoura ralada, o azeite, o molho de soja e as ervas. Misturem com as mãos até obter uma massa moldável. Se estiver seca coloquem um pouco de água; caso tenha ficado demasiado pastosa acrescentem alguma aveia instantânea.
Moldem bolinhas pequenas e repartam-nas num tabuleiro forrado com papel vegetal. Levem ao forno durante 15 a 20 minutos.
Estas bolinhas ficam óptimas quentes ou frias, o que as torna perfeitas para marmitas. Para as acompanhar fiz um molho de iogurte absurdamente simples: como a criança não vai muito à bola com alho em pó e com ervas que fiquem visíveis, limitei-me a misturar umas gotas de limão e de molho de soja num iogurte de soja natural estilo skyr. Por aqui foram um sucesso (milagre, farta de selectividade alimentar já ando eu 😑).
Para as conservar:
Retirá-las do tabuleiro quente e distribuí-las numa superfície com papel toalha por baixo (isso vai ajudar a eliminar alguma humidade e gordura enquanto arrefecem). Quando estiverem frias, guardá-las num recipiente hermético, idealmente forrado com papel toalha, e guardar no frigorífico até dois dias.
Para as conservar:
Retirá-las do tabuleiro quente e distribuí-las numa superfície com papel toalha por baixo (isso vai ajudar a eliminar alguma humidade e gordura enquanto arrefecem). Quando estiverem frias, guardá-las num recipiente hermético, idealmente forrado com papel toalha, e guardar no frigorífico até dois dias.
publicado em

Quando o blogue nasceu não tinha quaisquer intenções de partilhar receitas: além de tantas pessoas já publicarem comidas tão bonitas e tão boas, não faço propriamente pratos esteticamente cativantes: faço refeições simples, como o típico arroz com feijão que não enche os olhos mas o estômago. Mas aos poucos fui sentindo que, visto comer ser uma forma de activismo e também um acto político – principalmente quando o movimento se quer antispecista – até faz sentido uma comum mortal, com zero aptidão em técnica culinária, mostrar os seus esquissos gastronómicos e assim espelhar uma das realidades além-Instagram: comida sem filtros, acessível, fácil de confeccionar e que, apesar de ser feia que dói, nela residir uma panóplia de aprazíveis sabores. Então decidi perder a vergonha e apresentar este bolo que, apesar de ainda ter o papel vegetal por baixo e a cobertura esparramada à toa, é tão delicioso que merece o seu lugar nesta mui vasta blogosfera.
Esta receita dá para um bolo pequeno e rende seis fatias.
Ingredientes:
2 copos (250 g) de farinha de trigo
2 colheres de chá rasas (8 g) de fermento químico (se quiserem, podem substituí-lo por 6 g de fermento em pó + 2 g de bicarbonato de sódio)
¼ colher de chá (1 g) de sal fino
½ copo (120 ml) de óleo vegetal
¾ copo (150 g) de açúcar mascavado
1 ½ colher de chá (7,5 g) de pasta de baunilha (utilizo da Vahiné e não quero outra coisa. Prefiram pasta em vez de aroma, por a primeira ter verdadeiramente baunilha e isso influenciar totalmente o sabor)
½ copo (120 ml) de leite vegetal
1 colher de sopa (15 ml) de sumo de limão (para um toque mais citrino dupliquem a quantidade)
½ copo (120 g) de compota de morango sem açúcar
Morangos médios picados (costumo usar uns dez)
Para a cobertura:
Natas vegetais de soja para bater, como as Whipping Soya da Alpro
Gotas de limão
Pasta de baunilha
Para a cobertura:
Natas vegetais de soja para bater, como as Whipping Soya da Alpro
Gotas de limão
Pasta de baunilha

O papel vegetal diz olá 😬
Pré-aqueçam o forno a 170°C e forrem uma forma pequena (com 16 centímetros de diâmetro, por exemplo) com papel vegetal. Untem ou pulverizem as laterais com óleo.
Misturem os ingredientes secos: numa taça peneirem a farinha, o fermento químico e o sal.
Tratem dos ingredientes líquidos: noutro recipiente, e com uma vara de arames, misturem o óleo, o açúcar, a pasta de baunilha, o leite vegetal e o sumo de limão. Mexam bem e devagar, para que a massa incorpore ar e fique fofinha.
Envolvam a compota e os morangos picados no preparado líquido.
Adicionem gradualmente os ingredientes secos aos líquidos, mexendo delicadamente até ficar homogéneo. Como os morangos picados ficam presos na vara de arames podem finalizar com uma espátula mas sem bater depressa para que o bolo não fique excessivamente denso.
A massa deve estar com alguma constância e um aspecto acetinado. Caso escorra demasiado adicionem um bocadinho de farinha de trigo; se estiver demasiado firme complementem com um fio de leite vegetal. O ponto ideal é a massa deslizar devagar quando vertida para a forma.
Levem ao forno por 40 a 45 minutos ou testem com um palito até ele sair limpo. Evitem abrir a porta do forno o máximo possível para diminuir o risco do bolo colapsar.
Deixem o bolo arrefecer antes de o desenformar. Enquanto isso, preparem a cobertura: batam as natas de soja com uma varinha de arames eléctrica ou com uma batedeira, acrescentando gotas de limão e pasta de baunilha. Também podem colocar xarope de tâmaras no lugar da baunilha.
Quando o bolo já estiver frio distribuam a cobertura e decorem com morangos frescos. Levem ao frigorífico por algumas horas (idealmente de um dia para o outro) para a cobertura firmar.
publicado em

O ano é 2025 e ainda ouvimos as mesmas justificações falaciosas e forçadas de há 20 anos ou até mais. Justificações para o injustificável, que é transformar um ser complexo, com sensações e emoções, num mero retalho despersonificado e que, aos nossos olhos, nos deixa bem longe do animal que outrora foi, tornando-o invisível. Uma descaracterização hedionda e tortuosa, transformando grotescamente um indivíduo numa mera comoditização. Que, um dia, estes argumentos, ainda lançados em loop infinito, diminuam até atingirem aquilo que verdadeiramente são – o ridículo. Que, um dia, precisar de contra-argumentar exaustivamente também diminua até deixar de ser necessário: será sinal de que a libertação animal está, finalmente, cada vez mais perto de ser conquistada. Até lá, continuemos a mostrar que todas as bases que sustentam estes hábitos especistas não são mais do que puramente infundados.
“Os nossos antepassados não aprenderam a fazer fogo para comer carne cozida e evoluir até onde estamos hoje para eu comer mato e começar o retrocesso.”
Os nossos antepassados descobriram o fogo e, agora, podemos usar esse fogo para cozinhar alimentos que não implicaram exploração e morte desnecessárias.
“Nós somos superiores aos animais.”
Ao longo dos séculos, o uso e abuso das diferenças (físicas, biológicas, entre outras) foram um entrave para a evolução civilizacional. Os esclavagistas defendiam que se explorassem negros referindo como estes eram menos inteligentes; os homens maltratavam as mulheres por considerarem-nas mais fracas fisicamente e intelectualmente; povos indígenas foram massacrados pelas mesmas razões, bem como crianças foram continuamente negligenciadas por serem mais vulneráveis do que os adultos. Se ainda hoje esse tipo de discriminações acontece, levando a acções violentas e criminosas, é por muitos insistirem que essas diferenças encontram-se acima de qualquer condição moral que garanta os plenos direitos a todo e qualquer indivíduo. Não passa de puro egoísmo que visa, exclusivamente, a protecção dos interesses pessoais de alguns em detrimento dos outros.
Essa desconsideração que leva o ser humano a classificar-se superior encontra-se também, e em larga escala, no modo como continuamos a tratar os animais não-humanos. Não é a inteligência, a força física, a capacidade moral, entre outros factores desse género, que definem a defesa da equidade. Se assim o fosse, um porco merecia ter mais direitos do que uma criança de três anos já que é mais inteligente. Se assim o fosse, indivíduos num estado avançado de demência não teriam direitos, já que perderam a sua capacidade moral.
Não são as nossas aptidões que nos tornam superiores aos animais não-humanos e que permitem que os exploremos para o nosso benefício. Os animais, assim como nós, sofrem — e, assim como nós, têm o interesse de não sofrer.
Mas os leões também matam animais para comer.
Estou perdida: primeiro nós podemos comer animais porque somos mais inteligentes do que eles, e agora podemos comer animais porque outros animais também o fazem? Afinal, em que ficamos?
Só o facto de não sermos leões é suficiente para esta comparação não ter sequer cabimento. Os leões não criam animais em massa: não os inseminam artificialmente, nem os manipulam geneticamente. Não matam mais de um milhar de animais por segundo e não os retalham em pedaços para serem dispostos em prateleiras comerciais. Eles, e outros animais carnívoros, necessitam de comer animais ao contrário de nós. Para eles é uma questão de sobrevivência, não de escolha.
Só o facto de não sermos leões é suficiente para esta comparação não ter sequer cabimento. Os leões não criam animais em massa: não os inseminam artificialmente, nem os manipulam geneticamente. Não matam mais de um milhar de animais por segundo e não os retalham em pedaços para serem dispostos em prateleiras comerciais. Eles, e outros animais carnívoros, necessitam de comer animais ao contrário de nós. Para eles é uma questão de sobrevivência, não de escolha.
Se temos competências racionais que nos separam da vontade superficial instintiva, e se temos também princípios morais que nos leva a questionar como devemos tratar os outros, porque não abrangemos essa capacidade e esses princípios em coisas tão simples como a alimentação?
E pelos vistos os supermercados, com os cadáveres previamente preparados e embalados, substituíram a savana de outros tempos.
Os nossos antepassados caçavam. Nós somos caçadores por natureza.
O ser humano foi caçador-colector há milhares de anos e caçava por sobrevivência e necessidade. Com o tempo evoluiu, sedentarizou-se, formou-se civilizacionalmente, começou a cultivar os seus próprios alimentos, adquiriu novos hábitos, novos pensamentos e novas preocupações sociais, políticas, religiosas, interpessoais, intrapessoais e morais. Nós somos fruto de uma evolução a todos os níveis e, actualmente, vivemos numa época em que a senciência animal é um facto e não uma suposição. Um caçador-colector sabia lá que os animais sofriam – provavelmente nem sequer tinha uma designação para classificar os animais. Para além disso, eles não conheciam e não tinham à sua disposição os milhares de produtos de origem vegetal que hoje temos. Simplesmente não faz sentido nenhum insistir nos costumes passados quando o presente é totalmente diferente.
Tu não és perfeitinha, sabes? Quando andas pela rua pisas e matas formigas, por isso só estás a perder o teu tempo.
O ser humano evoluiu quando começou a comer carne, pelo que a evolução estagnará se deixarmos de a consumir.
“Este argumento adopta uma visão que alterna uma abordagem darwiniana da evolução com um ultrapassado olhar lamarckista. Em relação ao passado, ele pode até ter algum sentido, se forem ignorados os questionamentos existentes sobre o passado alimentar distante do ser humano. Mas erra ao dizer que o vegetarianismo compromete a evolução humana, uma vez que a sedentarização e modernização das sociedades humanas tornou a nossa espécie livre das pressões selectivas naturais que outrora nos teriam requerido uma alimentação omnívora. Os humanos das sociedades modernas (...) já não precisam de caçar, nem mesmo de matar qualquer animal com fins de consumo alimentar.
Há uma alegação semelhante paralela, de que o ser humano precisou de carne para aumentar o seu volume cerebral e, por isso, o vegetarianismo ameaça causar um retrocesso. Mas ela tem uma essência basicamente lamarckista, baseada na transferência hereditária não genética de mudanças corporais e já refutada pela teoria darwiniana e pela genética mendeliana, ao crer que o cérebro aumentará à medida que as pessoas continuem a comer carne (...).”
Não cheguei ao topo da cadeia alimentar para comer alface.
E se parares numa ilha deserta e só estiver lá uma galinha?
– Sempre tenho companhia;
– Cuido da galinha, chamo-a de Mimi e vamos viver grandes aventuras;
– Como raio a galinha foi parar a uma ilha deserta?
– E porque raio irei parar a uma ilha deserta?
Se todos virassem vegetarianos, os animais utilizados para consumo deixariam de ser úteis e extinguir-se-iam.
Este é um dos raciocínios que mais me confunde, tanto por carecer de lógica como por existir outro totalmente oposto: de que, se pararmos de comer animais, estes serão em demasia e tomarão conta de tudo. Só a disparidade destes dois raciocínios mostra a falácia presente em ambos.
“Temos de perceber que a produção de produtos de origem animal assenta numa base de oferta e procura; isso significa que, quando vamos a um supermercado e compramos determinados produtos, estamos a exigir que estes continuem a ser fornecidos.Ademais, afirmar a “utilidade” que os animais têm para o humano é uma objectificação clara dos mesmos. Acabamos por esquecer que possuem um propósito na vida e consideramos correcto explorá-los para nosso benefício.
Os fazendeiros não criarão animais que sabem que não conseguirão vender, simplesmente por não ser viável economicamente. Se aliarmos isso com o facto de que o mundo não se tornará vegano de um dia para a noite, o processo será gradual durante um longo período de tempo, o que significa que quantas mais pessoas se tornarem veganas, cada vez menos animais serão criados para a produção de derivados de animais. Assim, num cenário em que todas as pessoas são veganas, não haverá uma situação em que tenhamos biliões de animais vivos a andar por aí, em que ou os tenhamos de libertar na Natureza ou que os tenhamos de matar, porque o número de animais que estão a ser criados diminuirá de acordo com a proporção de pessoas veganas.
Quanto ao outro argumento, de que se os animais não forem criados para consumo acabarão extintos, podemos vê-lo desta forma: se não criássemos estes animais eles não existiriam de qualquer das maneiras, visto que eles são fruto de uma selecção e mutação genética por nós criadas. Por causa dessas mutações, dificilmente esses animais conseguiriam sobreviver sozinhos na Natureza, pelo que precisam dos humanos para cuidar deles, algo que os santuários já fazem.
Além de tudo isso, ao erradicarmos a pecuária estamos a permitir que os habitats naturais (os que foram destruídos por causa dessa indústria) ressurgem, o que também permite que a vida selvagem e a biodiversidade natural floresçam.”
Argumentar que as vacas, os porcos e as galinhas vão extinguir-se se pararmos de comê-los leva a recordar o que os apoiantes da tauromaquia ameaçam constantemente: que o fim das touradas levará ao desaparecimento do touro bravo (e sabemos que isso não é verdade).
A minha comida caga na tua.
Esta é já um clássico: nem pode ser considerada um argumento, mas precisava mesmo de a incluir aqui. Considerem-na um bónus na categoria de tesourinhos deprimentes.
As vacas, os porcos e até mesmo os peixes ingerem
os seus próprios dejectos. Nas pecuárias, a higiene é tão nula que os animais acabam por não ter outra opção senão comer o que sujaram com as suas fezes. Os seus insumos também não escapam incólumes: por exemplo, um ovo é poroso, pelo que fica
facilmente contaminado com matéria fecal, e o leite de vaca é uma
miscelânea de fezes, sangue e células somáticas que a pasteurização não consegue eliminar por completo. Mas sempre é mais fácil cuspir uma frase sem sentido e em tom de deboche triunfante do que pensar um pouco nesses pormenores demasiado óbvios 🙃
Imagem: Pexels
Subscrever:
Comentários (Atom)
Social Icons